O politiquês é uma linguagem complicada em que
muitas palavras conhecidas são utilizadas com significados outros. Tratar-se-á,
provavelmente, de uma leitura enviesada do que Almada Negreiros dizia sobre a
não necessidade de inventar palavras novas, mas de novas utilizações para
as palavras já inventadas.
Na verdade, nos discursos de boa parte da classe
política, as palavras já não significam o que sempre significaram mas algo que
o autor entende e quer que elas
signifiquem, custe o que custar.
Vem esta introdução a propósito do último exemplo
deste movimento. O Dr. Rui Machete afirmou por escrito à AR que não foi accionista
da SLN/BPN quando efectivamente o foi. Diz o Dr. Machete com a maior tranquilidade
que se trata de uma "incorrecção factual". Antigamente chamava-se
mentira.
Mas isso era num tempo em que a palavra, as palavras,
valia, valiam. A palavra hoje vale pouco, para não dizer nada.
O acompanhamento ao nosso quotidiano e aos
discursos das lideranças políticas, mostra outros exemplos como "irrevogável",
"clarificação", "estabilidade", "linha
inultrapassável", "transparência", "inaceitável", "tranquilidade", "promessa",
"objectivo", "normalidade", etc., que significam coisas bem
diferentes do sentido que sempre tiveram.
É verdade que as línguas são estruturas vivas e
que, portanto, mudam, evoluem e o politiquês, naturalmente, não foge à regra.
A questão é que este processo tem um preço
pesadíssimo. As palavras, o seu verdadeiro significado ficam feridas de valor.
Como no valor fica ferida a confiança dos
cidadãos nesta gente que fala politiquês, para quem vale tudo na protecção de
interesses que raramente têm a ver com o bem-estar comum. Por isso a falta de
saúde ética da nossa democracia de que o processo eleitoral em curso para as
autarquias é um retrato fiel e embaraçoso.
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