Segundo a OCDE, os custos do trabalho em Portugal
continuaram a baixar entre Abril e Junho, o que confirma dados conhecidos no início
do mês da consultora Mercer que registavam que os salários médios em Portugal
baixaram pelo segundo ano consecutivo.
Conjugando esta informação com dados
INE, vai ficando claro o trajecto de proletarização e empobrecimento que as
políticas em curso e em perspectiva impõem à economia e ao mercado de trabalho.
Em Portugal, cerca de 690 000 pessoas, 15% da população empregada, trabalham 48
horas ou mais por semana, o critério internacional para "trabalho
excessivo". Este número tem vindo a aumentar mas, provavelmente para
compensar, o salário médio líquido da economia tem vindo a baixar o que é
coerente com o empobrecimento e proletarização desejados, mais trabalho e menos
salário. Veja-se a decisão de aumentar a carga horária dos funcionários da
administração pública e o processo em curso de despedimento mascarado.
Acresce a esta situação o elevadíssimo nível de
desemprego, sobretudo desemprego jovem de longa duração sendo que também deve
ser considerado impacto da altíssima carga fiscal nos rendimentos familiares
finais.
De notar ainda que desde o início da intervenção
da Troika que nos governa o emprego apenas cresceu no patamar com salários até
310 €, um assombro.
É difícil de entender a persistência numa
estratégia de empobrecimento como salvação para as dificuldades num país em que
perto de três milhões de pessoas, quase um terço da população está risco de
pobreza. Este é o resultado de uma persistência cega e surda no “custe o que
custar", no cumprimento dos objectivos do negócio com a troika e dos
objectivos de uma política "over troika", atingindo claramente o
limite do suportável e afectando gravemente as condições de vida de milhões.
Estamos a falar de pessoas, não de políticas, ou melhor estamos a falar do
efeito das políticas na vida das pessoas. E estamos no “bom caminho”?
Ter como preocupação quase exclusiva o
abaixamento dos custos do trabalho através do aumento da carga horária e do
abaixamento de salários não parece ser a forma mais eficaz de combater o
desemprego, promover desenvolvimento e criação de riqueza.
Parece razoavelmente claro que a proletarização
da economia não poderá ser a base para o desenvolvimento económico, mas sim o
investimento e a disponibilização de crédito a custos razoáveis, sobretudo para
as pequenas e médias empresas que de forma mais ágil criam emprego e emprego
qualificado que não pode ter a indignidade dos salários que conhecemos.
O que precisamos é de coragem e visão sem
subserviência ao ditado dos mercados e dos seus agentes para definir modelos
económicos, sociais e políticos destinados a pessoas e não a mercados ou a
grupos minoritários de interesses.
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