quarta-feira, 25 de setembro de 2013

MELHOR TRABALHO OU MAIS TRABALHO COM EMPOBRECIMENTO E DESEMPREGO?

Embora seja previsível a manutenção do Diploma que instituiu as 40 horas semanais para os fncionários da administração pública, a providência cautelar apresentada e aceite em Tribunal pelos trabalhadores do Fisco e o facto de ter sido requerida a fiscalização sucessiva ao Tribunal Constitucional mantém a questão na agenda. Assim, umas notas sobre esta matéria, o aumento da carga horária.
Esta medida, aparentemente simpática aos olhos de quem diaboliza os privilegiados funcionários públicos, alvos preferenciais do saque a que vamos assistindo, não terá, como reconhecem os especialistas, impacto significativo ao nível da produtividade e é pouco amigável na promoção de emprego ou, se preferirem, no combate ao desemprego como também alguns técnicos já alertaram.
Como tenho vindo a afirmar, apesar de não ser um especialista, apenas um cidadão que procura estar atento, creio que a abordagem da relação entre o tempo de trabalho, a competitividade a produtividade é contaminada por alguns equívocos.
É minha convicção de que o problema da produtividade é, fundamentalmente, uma questão de melhor trabalho e não de mais trabalho. Aliás, conhecem-se estudos nesse sentido e podemos reparar o que se passa noutros países com cargas de horário laboral semelhantes à nossa. Lembram-se certamente de há alguns meses, a propósito de umas afirmações da Senhora Merkel sobre os "preguiçosos" do sul da Europa, ter sido divulgado, creio que na imprensa o I referiu os dados, um relatório sobre a duração do trabalho na União Europeia verificando-se que, contrariamente a alguns entendimentos, a duração do trabalho em Portugal é a terceira mais elevada da Europa, repito, a terceira mais elevada da Europa, embora a competitividade e produtividade sejam das mais baixas. Este quadro retira sustentação ao grande argumento do Governo de aproximação à realidade o sector privado pois os efeitos não são significativos, antes pelo contrário.
Parece assim claro que a produtividade não decorre fundamentalmente do tempo de trabalho. Existem, tenho-o afirmado, factores menos considerados e que do meu ponto de vista desempenham um papel fundamental, a qualificação profissional, a organização do trabalho, a qualidade dos modelos de organização e funcionamento, no fundo, a qualidade das lideranças nos contextos profissionais. O nível de desperdício no esforço, nos meios e nos processos em alguns contextos laborais é extraordinariamente elevado. Na administração central, autárquica e no universo das empresas públicas, por diferentes ordens de razões, este tipo de circunstâncias é razoavelmente frequente, sendo que em muitas situações as lideranças estão entregues por razões de aparelhismo partidário e troca de favores e não por competência ou currículo o que, naturalmente se traduz na qualidade do desempenho na gestão.
Neste cenário, a decisão de aumentar o horário de trabalho não parece ser, só por si, a solução milagrosa de incremento da produtividade e de combate ao desemprego, antes pelo contrário.
Parece-me bem mais potente um esforço concertado e consistente de reorganização e estruturação de serviços e de modernização e formação de chefias, funcionários e procedimentos do que impor o recurso simplista e “fácil” ao aumento da carga horária. Aliás, como vários trabalhos e experiências têm vindo a demonstrar o movimento actual nas sociedades mais desenvolvidas é justamente o aligeirar das horas de trabalho e mudanças na própria organização do trabalho procurando promover melhor qualidade nos estilos de vida.
Aumentar o horário de trabalho não parece a forma mais eficaz de combater as famosas "gorduras" do estado, antes pelo contrário, boa parte das políticas em curso promovem, isso sim, o emagrecimento dos cidadãos, ou, pelos menos, dos seus rendimentos.

1 comentário:

não sei quem sou... disse...

No conteúdo da Reforma do Estado que agrava as condições de vida do povo, penso que há matérias mais importantes e gravosas para discutir de forma acalorada e merecedora de posições mais firmes ou até irredutíveis.

Não podemos esquecer que o horário da função Pública em Portugal é o mais leve da Europa.

"O mais trabalho não quer dizer melhor trabalho" é uma verdade. Ás chefias cabe corrigir este defeito.

Não podemos reenvidicar apenas o que mais nos interessa no funcionamento dos outros povos. Se queremos o bom temos também de aceitar o menos bom.

QUE ME DESCULPEM OS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS.

Expresso apenas a minha opinião...


VIVA!