terça-feira, 15 de novembro de 2011

ADOLESCENTES E CONSUMOS

Apesar dos dados hoje referidos no relatório anual do Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência que apontam para que em termos europeus os consumos de cannabis e cocaína pareçam em regressão na idade entre 15 e 34 anos, em Julho, dados do Instituto da Droga e da Toxicodependência apontavam no sentido de se verificar um aumento preocupante do consumo de drogas duras por parte dos adolescentes e uma tendência de abaixamento do número de toxicodependentes.
Embora seja de saudar este abaixamento global do número de consumidores é importante estar atento à utilização das drogas duras e das drogas “novas” pelo efeito devastador e, sobretudo, pelo facto do aumento estar a envolver os mais novos.
Parece-me importante recordar que os estudos também referem que o consumo de álcool tem vindo a crescer alterando-se os padrões de consumo, beber na rua (é bastante mais barato, e o consumo excessivo e rápido (binge drinking). Este padrão tem vindo a ser sublinhado por diferentes estudos sobre os hábitos dos adolescentes e jovens portugueses, cerca de 80% dos jovens com 15 anos consomem álcool.
Este quadro torna verdadeiramente necessária uma política de prevenção, tratamento e combate ao tráfico eficaz e, tanto quanto possível, com os recursos necessários.
Há algum tempo foi noticiado que em virtude dos limites orçamentais o Instituto da Droga e da Toxicodependência iria prescindir dos serviços de algumas centenas de técnicos, psicólogos e assistentes sociais, que integravam as unidades de tratamento de proximidade com resultados conhecidos. O IDT procederá ainda ao encerramento de unidades de atendimento ao nível concelhio em vários locais do país levando os especialistas a referir as consequências negativas de tal decisão.
No que respeita ao álcool, como é sabido, a venda processa-se com a maior das facilidades e sem qualquer controlo da idade dos compradores. Muitos adolescentes, ouvidos em estudos nesta matéria, referem ainda a ausência de regulação dos pais sobre os gastos, sobre os consumos ou sobre as horas de entrada em casa, que muitas vezes tem que ser discreta e directa ao quarto devido ao “mau estado” do protagonista.
Existem áreas de problemas que afectam as comunidades em que os custos da intervenção são claramente sustentados pelas consequências da não intervenção, ou seja, não intervir ou intervir mal é sempre bastante mais caro que a intervenção correcta em tempo oportuno. A toxicodependência e o consumo do álcool são exemplos dessas áreas.
Quadros de dependência não tratados desenvolvem-se habitualmente, embora possam verificar-se excepções, numa espiral de consumo que exigem cada vez mais meios e promove mais dependência. Este trajecto potencia comportamentos de delinquência, alimenta o tráfico, reflecte-se nas estruturas familiares e de vizinhança, inibe desempenho profissional, promove exclusão e “guetização”. Este cenário implica por sua vez custos sociais altíssimos, persistentes e difíceis de contabilizar.
Face ao consumo de álcool pelos adolescentes, pode haver alguma negligência paternal mas, na maioria dos casos, trata-se de pais, que sabem o que se passa, “apenas fingem” não perceber desejando que o tempo “cure” porque se sentem tremendamente assustados, sem saber muito bem o que fazer e como lidar com a questão. De fora parece fácil produzir discursos sobre soluções, mas para os pais que estão “por dentro” a situação é muitas vezes sentida como maior que eles, justificando-se a criação de programas destinados a pais e aos adolescentes que minimizem o risco do consumo excessivo.
Costumo dizer em muitas ocasiões que se cuidar é caro façam as contas aos resultados do descuidar. Assim sendo, dificilmente se entendem algumas opções.

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