Na nossa sociedade, estou a pensar sobretudo entre nós portugueses, embora seja um fenómeno universal, existem umas figuras de maior ou menor relevo que quando olham para si e falam de si se colocam numa posição de extraordinária importância e imprescindibilidade, são os donos da história, julgam-se os donos da história.
Dito de outra maneira entendem e acreditam que determinam, determinaram ou podem determinar o rumo do mundo.
Na verdade, em todas as épocas existiram figuras que efectivamente marcaram a história, para o melhor ou para o pior mas, de uma forma geral, essas figuras têm o pudor de não o referir e deixar isso para o julgamento do tempo.
Vem esta introdução a propósito da notícia no Público envolvendo um dono da história em Portugal, Otelo Saraiva de Carvalho, figura associada ao papel, importante sublinhe-se, desempenhado no processo desencadeado com o 25 de Abril de 1974 e nos anos seguintes. Entre outras afirmações sobre a actual situação reafirma a expressão que utilizou há algum tempo numa entrevistas, "se soubesse como o Pais ia ficar, não fazia a revolução". Notável.
Ele, Otelo, a quem só faltam dotes de adivinhador teria decidido um dia ao acordar "é pá, assim não faço a revolução, não insistam que para isto não faço a revolução pá, vou antes tomar uma bica, se quiserem a revolução peçam a outro que a faça" e pronto pá, a história era outra.
O auto-centrismo de Otelo não o deixa perceber que apesar de todas as dificuldades que atravessamos, algumas muito graves e a atingir muita gente, o país de 1973 é, sem sombra de dúvida, um país pior que o de 2011. Se olharmos para todos os indicadores de desenvolvimento as mudanças são claras embora, repito, não invalidem nem façam esquecer as dramáticas condições que hoje afectam muitos milhares de portugueses.
Este tipo de discursos lembra-me aquela história do megalómano que tinha como sonho último ser Deus, para poder ser o único a afirmar "até amanhã se eu quiser". Aliás, Otelo admite novo golpe militar em Portugal que até seria "mais fácil" de realizar, claro, ele sabe destas coisas.
O velho e saudoso Mário Sénico, companheiro de viagens já desaparecido, diria de forma mais simples, "ai de mim se não for eu".
1 comentário:
Sou sempre condescendente com quem me dá alguma coisa. É humano!
Se essa coisa é a liberdade de exprimir publicamente as minhas ideias, sem ter que dar com os costados nas masmorras, mesmo sabendo que o móbil da dádiva é o interesse próprio, acrescento-lhe uma pitada de perdão.
Otelo Saraiva de Carvalho, um muito obrigado pelo que fizeste.
Estás perdoado por tudo o que tens dito e pelo que ainda dirás.
Não sei se o termo colocado de DONO da HISTÓRIA é com intuitos depreciativos mas garanto-te que eu nunca te esquecerei como alguém que mudou (para melhor) a história.
saudações
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