O Estatuto do Aluno agora publicado na região autónoma dos Açores abre a possibilidade de aplicação de multas aos pais de alunos que faltem às aulas ou se envolvam em episódios de indisciplina escolar. No caso de não cumprimento das multas, os pais podem perder apoios sociais se deles forem beneficiários.
A ideia de aplicação de coimas aos pais que "não se envolvam na educação dos filhos" não é nova, o eterno presidente da CONFAP, o Dr. Albino Almeida, há algum tempo atrás sustentou a mesma proposta que na altura comentei, discordando. Como aparece de novo na agenda, retomo algumas notas em estilo telegráfico ultrapassando uma primeira questão que remete para o que se deve entender por "envolvimento" na educação dos filhos.
1 - A maioria dos pais não gosta que os seus filhos sejam "maus". A maioria não sabe como fazê-los "bons". Estes precisam de apoio não de multas. Ponto.
2 - Uma minoria, muito pequena, de pais de miúdos "maus" são pais maus não estão interessados ou preocupados em ser bons, nem se preocupam com os filhos, são "negligentes". Nestes casos, o problema é, no limite, retirar a guarda dos filhos, a multa não mexe seguramente com a negligência destes pais. Ponto.
3 - Um miúdo "mau" levanta problemas numa escola, qualquer escola, onde existem umas dezenas largas de especialistas em educação que sentem a maior dificuldade em "resolver" os problemas criados por esse miúdo "mau", não conseguindo, com frequência, resultados positivos. Será que alguém que conheça estes cenários acredita que os pais serão capazes de os resolver, por si, mesmo se lhes retirarem parte do abono de família ou de qualquer outra prestação social? Não acredito. Ponto.
Dito isto, se de facto se quiser caminhar no sentido de envolver e responsabilizar a famílias dos miúdos "maus", o percurso será a criação de estruturas de mediação entre a escola e a família que permitam apoiar os pais dos miúdos maus que querem ter miúdos bons e identificar as situações para as quais, a comprovada negligência dos pais exigirá outra colocação para os miúdos.
O resto, do meu ponto de visa, é populismo, demagogia e desconhecimento que levará a que muita gente, lamentavelmente, aplauda a ideia. Os filhos dos outros são sempre o problema.
2 comentários:
De certa forma este é um caso semelhante ao da semana passada quando os alunos das escola primária foram impedidos de entra na cantina escolar. Retoma também o tema da democracia (ou falta dela em Portugal): numa verdadeira democracia, como por exemplo os estados unidos, um pai com sentido cívico que se indignasse com esta medida simplesmente candidatar-se-ia nas próximas eleições contra estes "iluminados", e com habilidade e persistência faria ver que pessoas de tal forma incompetentes ao ponto de fazerem tamanha asneira não mereciam ocupar os cargos que ocupavam. A simples prespectiva disto acontecer faz muitas vezes as pessoas pensar antes de fazerem asneiras. É verdade que o inverso também sucede, mas pronto a democracia é assim. Acontece que em Portugal simplesmente não existe, não é possível a uma pessoa comum fazer um percurso como o que descrevo acima. Aquilo que temos é uma teocracia dos partidos em que precisamente pela sua natureza a irresponsabilidade é total já que nunca ninguém tem verdadeiramente de prestar contas ou explicar aquilo que faz. O discurso populista, a roçar a verborreia, é para estes acólitoso o caminho fácil para se ganharem eleições, e por isso se um diz mata, o outro diz esfola. Em boa verdade, convenhamos, a culpa não é só deles, mas sim também de quem se deixa enganar. Pelo lado positivo porém temos uma abstenção de quase 50% nas eleições, sinal que quase metade da população já percebeu bem o que se passa.
Por isso é que digo, que em vez de se andar a fazer greves gerais por causa da austeridade,, digo que se as devia fazer para mudar o sistema político em Portugal para que passe a ser uma verdadeira democracia em vez de uma ditadura transvestida onde, pelas aparência, se vão rodando os personagens. Era bom que as pessoas se consciencializassem que enquanto o sistema político não mudar nada poderá mudar já que tudo começa por passar por ele.
De acordo Luís, voltamos à questão da partidocracia, em que a vida cívica e a participação são capturadas quase que em exclusividade pelos aparelhos e lógicas partidárias.
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