No DN de há alguns dias fazia-se referência a um estudo realizado pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, coordenado pelo Professor Mário Cordeiro e envolvendo umas centenas de alunos entre os seis e os 13 anos de uma escola de Lisboa, sobre o peso das suas mochilas. Em síntese, sete em cada dez miúdos transportavam mochilas com excesso de peso, acima de 10% do peso corporal da criança é considerado peso excessivo. Hoje o Público refere, para além do peso das mochilas, os erros de postura no tabalho escolar como fontes de problemas de saúde.
Como é óbvio esta constatação, pelas suas implicações e riscos, imediatos e a prazo, para a saúde dos miúdos, deveria exigir a atenção de pais e educadores no sentido de a minimizar, embora o seu transporte configure um exercício físico que disfarça a ausência de espaços e equipamentos adequados em muitas das nossas escolas e combata uma infância sedentarizada, a troco, é certo, de uma coluna castigada.
Aproveitando a preocupação com o peso da mochila e, já agora, com a organização dos seus conteúdos, tarefa a que muitos pais se dedicam ajudando, sobretudo os miúdos mais pequenos, gostava de chamar a atenção para um conteúdo que muitas vezes anda na mochila, que pode pesar muito e que, se não estivermos atentos, poderá passar despercebido.
Estou a referir-me aos medos que os muitos gaiatos transportam.
O medo de não ser capaz de aprender, o medo de não corresponder às expectativas, por vezes demasiado altas, dos pais, o medo das comparações com os outros, o medo das brincadeiras que adultos ansiosos lhes incutem, o medo induzido por discursos ligeiros sobre os riscos e perigos que espreitam por todo lado. O medo de futuro que não controlam e não antecipam. Entre outros.
Parece-me, por isso, que os adultos andarão bem se estiverem atentos ao que os miúdos carregam nas suas mochilas, para além e isso é importante, do peso dos inúmeros materiais. Muitas crianças e adolescentes sentem uma enorme dificuldade em lidar com os medos, sobretudo quando se sentem sós. Por vezes, acabam por se juntar a outros tão assustados quanto eles.
Quase nunca dá bom resultado.
3 comentários:
Mais uma vez, boa análise a uma notícia, se é que isto é uma notícia, importante.
Para mim foi uma constatação óbvia, quando a minha criancinha passou do 4º para o 5º ano, que algo estava errado com o peso da pasta.
A saber:
1) Demasiadas disciplinas. Folgo saber que a crise já fez descer o nº.
2) Demasiados livros (teórico,prático, e nalguns casos ainda um terceiro, por cada disciplina).
3) Livros demasiado grandes (no tempo dos meus pais os livros eram A5, no meu tempo passaram para um formato intermédio A4-A5, agora são maiores do que uma folha A4, imensamente mais espessos e pesados , e caros (250 EUR/ano em livros básicos é ridículo, ficam tão caros como livros da faculdade!!!)
Nem vou comparar conteúdos, mas um livro actual tem claramente menos matéria que um de há 20 anos.
A solução, no meu caso, foi por um lado, promover a ideia do caderno por folhas, e quando isso falhou (criança desorganizada + folhas soltas = pesadelo em potência) passámos a usar uns cadernos muito leves com 25 folhas. Por outro limitámos ao máximo a tralha que a criança transportava.
Quanto a malas de rodinhas, funciona até à 4ª classe, mas é muito complicado exigir aos pre-teens que andem com malas "à bebé".
Reduzimos de quase 6kg para 2.9kg e passei a controlar de vez em quando o peso, barafustando sempre que este ultrapassava os 3kg.
Funcionou.
Ainda bem que funcionou, como é normal quando os miúdos têem pais atentos. A questão é que muitos miúdos, como concordará, transportam "mochilas" demasiado pesadas para os ombros que possuem e nem sempre damos por iso.
Vá passando
Olá,
Pelo tema da adopção, dei hoje com o seu blog. Estive a 'folheá-lo'. Parabéns.
É verdade, as nossas crianças carregam muito peso nas suas 'mochilas'. Nós, os pais, por vezes andamos distraídos ou então demasiado centrados nos nossos medos e anseios, cegos pelo que é secundário, esquecidos do importante.
Obrigada pelo alerta.
Cristina M.
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