A administração das designadas tolerâncias de ponto sempre foi uma excelente ferramenta de acção política, razão pela qual a tradição em Portugal sempre foi de alguma generosidade nessa matéria bem recebida, aliás, pela natureza da relação ética que muitos de nós estabelecemos com o trabalho.
A decisão de conceder hoje tolerância de ponto à administração central e em empresas públicas inscreve-se nessa acção política, nada como um tempinho de férias extra em tempos de crispação e dificuldade.
Bem podem os economistas chamar a atenção para a necessidade de produtividade e para o custo económico das tolerâncias de ponto ou o facto de o sector privado se manter a trabalhar bem como algumas autarquias que recusam a “benesse”.
A questão não tem nada ver com economia, tem a ver com política, pura e dura. Nunca nenhum governo geriu este processo de outra forma que não a busca de uns dividendos políticos graças à simpatia, por assim dizer, com que nós os portugueses olhamos os dias de descanso extra que nos são oferecidos.
Considerando os tempos conturbados que atravessa e a manhosice política de Alberto João, não surpreende que este tenha decido a atribuição de tolerância de ponto aos funcionários da administração regional, boa parte da população activa da Madeira é bom recordar, para assistirem pela televisão a algo de absolutamente transcendente e imperdível, a tomada de posse de um Governo Regional que, numa situação completamente inédita e inesperada, vai ser chefiado por, imaginem, Alberto João Jardim, “himself”.
A decisão não é obviamente uma surpresa, mas sublinha pela enésima vez a matéria de que é feita a política, esta política, a política pequenina do Portugal dos pequeninos.
Na verdade, mais do que tolerância de ponto, é necessária tolerância de espírito para esta choldra, como dizia Eça. Não há saco.
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