Nos tempos crispados em que todos os dias somos envolvidos nas dificuldades que modelos de desenvolvimento e sistemas de valores que torceram a ética nos estão a criar, ainda sabe melhor chegar aqui, ao Meu Alentejo. Lembro-me até da moda da terra que diz "Quando um homem está sozinho no seu monte, bem no meio da natureza, escutando a água a entoar na fonte, é dono de uma riqueza".
Vai começar a lida da azeitona, o lagar da vila já abriu. Este ano, mercê de umas semanas sem chuva, parece-me que a apanha vai ser menor que as dos últimos dois anos que foram de bom rendimento. Vêem-se algumas boas borlas, como lhes chama o Velho Marrafa, mas por dentro as árvores não têm tanta azeitona.
Sempre que olho para as oliveiras, árvores que considero das mais bonitas, especialmente aquelas com muitos séculos e que já levam um tronco que dois homens não abraçam, admiro a sua generosidade.
Começam por dar as azeitonas que se comem em três variantes, pisadas, retalhadas e de conserva, qual delas a mais saborosa. Depois dão o azeite, a alma do comer bom, e como tem alma o azeite do Meu Alentejo.
Para além da azeitona e do azeite, a oliveira ainda é a mais calorosa da árvores, sempre a aquecer-nos. Aquece-nos quando maldosamente lhe batemos para nos dar a azeitona, aquece-nos quando a limpamos de pés de burro e cortamos os ramos e troncos para assegurar a sua renovação e ainda nos aquece quando nas noites longas de inverno arde no lume de chão ou na salamandra.
Finalmente, esta generosa capacidade de dar vive numa escala inacessível para nós, dura séculos.
São tão bonitas e generosas as oliveiras.
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