terça-feira, 22 de novembro de 2011

A PROVA DE VIDA

Eram cerca de nove da manhã quando a D. Rosa, uma senhora idosa que vive só, entrou no Centro de Saúde embora tivesse chegado bem cedo, ainda era de noite. Tirou a senha de atendimento, moveu-se por entre a quantidade enorme de gente que ali estava e tentou arranjar um lugar na sala de espera que estava, como é hábito, cheia.
Teve sorte, ao seu lado estava a D. Gracinda, uma senhora que tal como a D. Rosa vive só, com pouco contacto com a família e que ela conhece pois mora na sua rua. Assim, de conversa, sempre se passa melhor a espera e sempre se aproveita para trocar de queixas sobre a vida e de comentários sobre imensas coisas que muitas horas de televisão sugerem.
Estavam tão entretidas na conversa que a D. Rosa quase não dava conta de que estavam a chamar pelo seu número. A funcionária, depois de saber que a D. Rosa apenas queria dar uma palavrinha à sua médica de família por causa de uns incómodos que andava sentir e sobre os quais ouviu uma explicação detalhada, informou, delicadamente, que não saberia se a Dra. Manuela a poderia atender, é que estava muita gente e as consultas já estavam atrasadas. Ainda assim, prometeu que tentaria conseguir que a D. Rosa fosse vista pelo que deveria esperar na sala.
A D. Gracinda, entretanto, já tinha sido chamada pelo que a D. Rosa se sentou, desta vez, junto de um casal de reformados muito simpáticos, embora a senhora esteja sempre muito queixosa, que costuma encontrar no Centro.
Foi até engraçado, pensou a D. Rosa, porque a conversa se encaminhou para a recordação dos tempos em que os três eram novos, das diferenças para os dias de hoje, sempre com a inevitável conclusão que, isso sim, naquele tempo é que era bom. Depois do casal ter saído, já consultado e com os papéis em ordem, considerando que se aproximavam as duas da tarde, a D. Rosa voltou ao balcão onde outra funcionária a informou que naquele dia a Dra. Manuela já não veria mais ninguém pois faltavam ainda três pessoas e a Dra. precisava de sair logo.
Com a tranquilidade de quem não tem pressa, a D. Rosa foi embora devagar, para a casa, só, a pensar para consigo que no dia seguinte voltaria ao Centro mas viria um bocadinho mais cedo.

PS - Esta história ocorreu-me a partir da proposta de deslocar para os Centros de Saúde, onde faltam cerca de 1000 médicos de familia, 2,5 milhões de urgências hospitalares.

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