segunda-feira, 28 de novembro de 2011

PARECE MAL

Era uma vez um Homem. Do contra, diziam. Quase se pode dizer que vivia ao contrário das outras pessoas.
Enquanto foi pequeno passou o tempo a ouvir, “fazes tudo ao contrário, parece mal”.
Foi crescendo e os comentários não mudaram muito, “não vistas isso, parece mal”, “não fales assim, parece mal”, “não faças isso que parece mal”.
Quando o Homem ficou homem ia ouvindo à sua volta, “devias comportar-te de outra maneira, assim, parece mal”, “já não és um jovem, isso parece mal”.
Em velho, o Homem, já quase sozinho, ainda ouvia dos vizinhos, “isso parece mal”, “assim, não pensarão bem de si”.
Até que um dia, pela primeira vez, alguém disse, “parece bem”. Era o ajudante de coveiro ao fechar, pela derradeira vez, o caixão do Homem.

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