O Paulo Guinote no seu A Educação do Meu Umbigo coloca uma referência a uma prática do MEC a que aqui já me tenho referido e que parece de retomar.
De há uns tempos para cá o Ministério tem permitido que as escolas contratem a prestação de serviços educativos a realizar aos seus alunos, a empresas, naturalmente, exteriores à escola que, aliás, têm florescido. Estes serviços envolvem trabalho de psicólogos bem como de outros técnicos, por exemplo terapeutas, e desempenham funções em diferentes áreas de trabalho da escola. No texto de Paulo Guinote refere-se o envolvimento do trabalho de psicólogos com turmas dos Curso de Educação Formação mas verificam-se também intervenções em outsourcing na área dos apoios educativos. A aquisição destes serviços, ao abrigo de Programas Operacionais, visa conseguir, cito de um exemplo, “mudanças comportamentais dos alunos”, “melhoria de atitudes face às tarefas escolares”, pretendendo-se o “sucesso educativo”. É delirante.
Não quero, nem devo, discutir aqui a natureza específica, quer em termos de adequação, quer de qualidade da intervenção dos técnicos, designadamente na área da psicologia. A minha questão é o modelo que a suporta e que me parece completamente errado, sendo mais uma entrega de serviço público aos mercados.
Como é que se pode esperar que alguém de fora da escola, fora da equipa, técnica e docente, fora dos circuitos e processos de envolvimento, planeamento e intervenção desenvolva um trabalho consistente, integrado e bem sucedido com os alunos e demais elementos da escola?
Das duas uma, ou se entende que os psicólogos sobretudo, mas não só, os que possuem formação na área da psicologia da educação podem ser úteis nas escolas como suporte a dificuldades de alunos, professores e pais, não substituindo ninguém, mas providenciando contributos específicos para os processos educativos e, portanto, devem fazer parte das equipas das escolas, base evidentemente necessária ao sucesso da sua intervenção, ou então, existe quem assim pense no próprio MEC (veja-se o atraso na colocação dos poucos que o sistema tem), os psicólogos não servem para coisa nenhuma, só atrapalham e, portanto, não são necessários.
A situação aceite e promovida pelo MEC parece-me, no mínimo, um enorme equívoco, que, além de correr sérios riscos de eficácia e ser um, mais um, desperdício (apesar do empenho e competência que os técnicos possam emprestar à sua intervenção), tem ainda o efeito colateral de alimentar uma percepção errada do trabalho dos psicólogos nas escolas.
No entanto, a reflexão sobre este trabalho merecia um outro espaço e oportunidade.
Apenas a nota final de que psicologia da educação, “outsourcing” e qualidade não me parecem ideias compatíveis.
3 comentários:
...sublinho o "mas não só" [da psicologia da educação] e assino por baixo... partilho inteiramente da sua opinião...
Olga
Bom dia Professor
Estou completamente de acordo consigo contra a entrega de serviço público aos mercados nas escolas.
Quanto aos psicólogos da educação, parafraseando Carlos Mozer, antigo defesa central do Benfica, só conheço dois tipos de psicólogos: os que trabalham e os que não trabalham.
Abraço
António Caroço
Caro António, Ainda assim, existe uma diferença entre fazer certas as coisas e fazer as coisas certas.
Um abraço
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