No tempo em que os miúdos podiam brincar na terra e conhecer bichos sem ser nos documentários da televisão ou em visitas aos Jardins Zoológicos ou às quintas pedagógicas (designação curiosa e engraçada) havia sempre um animalzinho que despertava a curiosidade e atraía a atenção da miudagem, os bichos de conta.
Era engraçada a forma hábil como o bichinho ao sentir a menor ameaça se enrolava e se transformava numa bolinha couraçada inacessível e, simultaneamente, tão frágil como estava antes, devido ao tamanho e leveza.
Muitas vezes pegávamos naquelas bolinhas e delicadamente ficávamos à espera que eles recuperassem a tranquilidade e se desenrolassem voltando ao aspecto normal. Coisas de outros tempos e que hoje muitos pais proibiriam certamente os seus filhos de fazer, a terra provoca doenças e os bichos são perigosos, dizem.
No entanto, estranhamente, lembrei-me como se encontram tantos miúdos que parecem bichos de conta. Ao menor sinal que percebam como ameaça ou risco, enrolam-se fecham-se sobre si mesmos e ficam inacessíveis, resistem ao contacto e ficam encapsulados.
A experiência mostra que, provavelmente, também neste caso deveremos agir como se fazia com os bichos de conta, tentar criar uma situação de serenidade à volta, devolver tranquilidade aos miúdos e levar a que eles voltem a sentir-se confiantes e não ameaçados pelo que está à sua beira.
Se bem repararmos existem muitos miúdos que assim agem.
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