terça-feira, 22 de novembro de 2011

O MIÚDO QUE VINHA QUENTE

Um dia destes numa roda de conversa na sala de professores, comentava-se um episódio ocorrido com a Professora Dulce que envolveu o João, um miúdo de dez anos, para quem ela, face ao comportamento que se verificou, tomou a decisão de mandar sair da sala. O motivo da conversa nem era propriamente o incidente, vulgar aliás, no quotidiano da escola, mas o facto da Professora Dulce sentir alguma dificuldade para entender o comportamento do João, pois tinham, afirmava a professora, uma excelente relação, conversando muitas vezes até fora da aula.
As opiniões iam e vinham e o Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros, naquele jeito manso de falar, pediu para contar uma história.
Um dia, disse ele, um aluno de uma turma sua, parecido com o João também teve um comportamento inadequado de que se não percebeu a razão, também ele tinha uma excelente relação com a professora que estava na sala. Como sempre, entendeu por bem falar com o miúdo mas da conversa nada sobressaía que pudesse explicar o incidente, insistindo o miúdo que gostava da Setora, era fixe como dizem as falas dos miúdos.
O Professor Velho sem grandes saídas acabou por lhe perguntar directamente que explicação tinha ele para ter destratado a professora quando repetia que gostava muito dela. O miúdo calou-se uns segundos e depois respondeu-lhe qualquer coisa como, "Não sei, vinha quente".
Na verdade, terminou o Professor Velho, por vezes olhamos para o comportamentos miúdos e nem sempre nos lembramos que quando chegam à escola, alguns deles, vêm já com fardos pesados de ambientes desconfortáveis, pesados, pouco acolhedores, ou seja, vêm quentes como falava o miúdo. Não é para desculpar, é para entender, disse.
Entretanto, chegou a hora de retomar a lida e o grupo desfez-se a caminho das salas de aula.

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