Cantinas também matam a fome às famílias dos alunos
A situação, recorrente nos
últimos anos, mostra um outro lado da ideia de Escola a Tempo Inteiro e da
municipalização da educação.
A melhoria das condições de vida
tarda a chegar a muitos milhares de famílias apesar da insistência em discursos
que esquecem ou negam esta realidade. Muitas crianças e adolescentes encontram
na escola a única refeição consistente e equilibrada a que acedem levando a que
em muitas autarquias as cantinas escolares funcionem também no período de
férias ou de interrupção de aulas.
O impacto das circunstâncias de
vida no bem-estar das crianças e em aspectos mais particulares no rendimento
escolar e comportamento é por demais conhecido e essas circunstâncias
constituem, aliás, um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono
quando são particularmente negativas, como é o caso de carências significativas
ao nível das necessidades básicas.
Em qualquer parte do mundo,
miúdos com fome, com carências, não aprendem e vão continuar pobres. Manteremos
as estatísticas internacionais referentes a assimetrias e incapacidade de
proporcionar mobilidade social através da educação. Não estranhamos. Dói mas é
“normal”, é o destino.
Quando penso nestas matérias
sempre me lembro da história que aqui já tenho contado e foi umas das maiores
lições que já recebi, acontecida há uns anos em Inhambane, Moçambique. Ao
passar por uma escola para gaiatos pequenos o Velho Bata, um homem velho e sem
cursos, meu anjo da guarda durante a estadia por lá, disse-me que se mandasse
traria um camião de batata-doce para aquela escola. Perante a minha estranheza,
explicou que aqueles miúdos teriam de comer até se rir, “só aprende quem se
ri”, rematou o Velho Bata.
Pois é Velho, miúdos com fome não
aprendem e vão continuar pobres.
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