Nos últimos tempos temos sido
bombardeados com a ideia da estabilidade a propósito das mais variadas
matérias. O mantra da estabilidade é aplicado em todas as circunstâncias transformando-se
no caminho para o paraíso.
Acontece que boa parte dos discursos
sobre estabilidade assentam num enorme equívoco que, do meu ponto de vista, é
intencional.
Na verdade, nas mais das vezes
confunde-se “estabilidade” com “estagnação”, com “imobilidade”, com “paz podre”,
com o “temos que ser amiguinhos”, com “medo da conflitualidade”, etc., etc.
A ver se nos entendemos. As
mudanças introduzem tensão, conflito, dúvida mas só assim se evolui embora
também saiba que as mudanças podem ter sentido negativo.
A conflitualidade não é má em si mesma,
é má quando é mal resolvida, quando não conhece democracia, ética ou moral.
As grandes mudanças ao longo da
história e em todas as áreas resultaram sempre do contrariar da “estabilidade”, do “pensar
diferente”, do duvidar, do experimentar, do caminhar por caminhos diferentes.
É verdade que as mudanças também
não são processos fáceis, geram reserva e mesmo receio. É também verdade que
muitos dos discursos de apelo à “estabilidade” se servem desse receio para
evitar a mudança e, simultaneamente, manter e acautelar os seus interesses de
sempre.
Vejam-se como nos discursos
políticos nos últimos meses tem estado presente a defesa exacerbada da “estabilidade”
pantanosa da alternância política certinha, amiga, sempre dentro do chamado “arco
da governação” e a diabolização da mudança e da catastrófica instabilidade que
aí virá.
Vejam-se os discursos no âmbito
das presidenciais e como a estabilidade do “sempre tem sido assim” sustenta
ataques fortíssimos ao que verdadeiramente contém um potencial de mudança, a
candidatura de Sampaio da Nóvoa.
Camões escreveu há muito “Todo o mundo é composto de mudança, tomando
sempre novas qualidades”. Se tivesse seguido os conselhos sobre a
necessidade da estabilidade não teria escrito. Não teria vivido.
Nem Pessoa, um desassossegado sem
estabilidade.
Nem toda a gente que um dia
pensou “fora da caixa”.
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