Os resultados das eleições em
França, na linha do que tem acontecido noutros países, a subida significativa
de uma direita radical xenófoba e intolerante, evidenciam os caminhos perigosos
de um projecto europeu em risco de implosão.
A mediocridade da generalidade
das lideranças europeias e mundiais vem criando o caldo de cultura no qual se
desenvolvem os sentimentos radicais.
A forma como se tem lidado com a trágica
crise dos refugiados, a começar por políticas que claramente estão na sua
origem, e os problemas do terrorismo mostram os enormes riscos de falência de
um projecto europeu. Veja-se, por exemplo, a posição de Cameron e o referendo
sobre permanência da Inglaterra na União Europeia.
São estranhos os movimentos da
história sobretudo quando falta de competência e de visão dos seus mais
relevantes protagonistas é uma característica.
O ano passado a quase totalidade
da Europa comemorou os 25 anos da queda do Muro de Berlim. Em 2015 a quase
totalidade da Europa assiste sem grandes sobressaltos das suas lideranças à
proliferação da construção de muros e barreiras de arame farpado alimentando a
vida de terror e drama de muitos milhares de pessoas a viver num inferno que,
também, foi ateado pela incompetência de decisões políticas dessas mesmas
lideranças.
Talvez a relativa tranquilidade
com que se assiste à construção de muros e barreiras em diversos pontos acabe
por não ser estranha.
Este é o terreno ideal para a
emergência da xenofobia e do radicalismo de direita que em França, como na
Hungria, como na Finlândia, como na …
Toda esta gente defende os muros
e as barreiras. Eles vão sendo construídos nas nossas vidas conduzindo no
limite à construção de "condomínios de um homem só" rodeado de muros
para que ninguém entre.
As comunidades, mais do que a
mediocridade das suas lideranças, não podem deixar que estes muros se mantenham
e, mais grave, que se construam novos muros e barreiras. Mas as comunidades
sentem-se perdidas e assustadas com ameaças que não compreendem, fica mais
fácil uma reacção de isolamento e diabolização do que vem de fora.
Um dia, sem darmos conta, ao
querer olhar para o que está à nossa volta já não conseguimos, o muro com que
nos fecharam não o permite.
Aí talvez seja um pouco tarde.
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