quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

EPPUR SI MUOVE

O Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa, a estrutura de liderança da Igreja Católica lamentou a “rapidez e leviandade” da decisão da Assembleia da República que vem permitira a adopção de crianças por parte de casais homossexuais. A Igreja insiste, ainda que com legitimidade, trata-se de valores, numa posição que não encontra fundamento científico, que não protege a criança e o seu bem-estar e contribui para a manutenção de mais crianças institucionalizadas sem uma família que delas cuide e goste.
Esta tomada de posição surge sem surpresa pois, apesar de alguns discursos e comportamentos do Papa Francisco, a mudança na Igreja é difícil, muito difícil, e está em linha com as decisões do último Sínodo dos Bispos que continuam a resistir a mudanças em diferentes sentidos.
A propósito das mudanças na Igreja, ou a sua ausência, considerando a influência que ainda mantém em muitas comunidades, recordo que D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, afirmava em 2012, em entrevista ao JN, que a Igreja não está à altura do momento, está "atrasada" e não presta atenção às "transformações do mundo".
A afirmação de D. Manuel Martins lembrou-me o conhecido enunciado, "no entanto ela move-se". Ao que a história ou a lenda rezam, no séc. XVII Galileu Galilei reagiu com esta mítica afirmação à sua condenação no Tribunal do Santo Ofício pela defesa do modelo heliocêntrico, a Terra move-se em volta do Sol.
Do meu ponto de vista, a reconhecida perda da influência da Igreja Católica, sobretudo nos países mais desenvolvidos, deve-se também ao seu imobilismo, à forma conservadora como não reage às óbvias mudanças sociais, políticas, económicas e culturais sustentando um progressivo afastamento da vida das pessoas, como reconhecia D. Manuel Martins.
Um dia, talvez a instituição Igreja aceite e perceba a importância e a necessidade de mudança no discurso e nas atitudes relativas ao divórcio e casamento, às uniões entre pessoas do mesmo sexo e adopção por parte destes casais, à anti-concepção, ao celibato dos padres, à abertura do sacerdócio às mulheres, o combate à ostentação visível em parte das estruturas da igreja, etc.
No entanto, considerando o que se tem ouvido e é conhecido das intervenções da hierarquia da Igreja, não creio que, apesar de alguns comportamentos e discursos do Papa Francisco e também da significativa mudança de estilo face ao seu antecessor Bento XVI, seja de esperar um movimento de alteração significativa nas posições da Igreja sobre estas matérias.
Eppur si muove.

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