Equitação terapêutica: “Estes póneis são muito boas pessoas”
No Pony Club do Porto, os animais são tão importantes quanto as crianças e os adultos que usufruem das sessões de equitação terapêutica. Há tempo para criar amizades com os póneis e para trabalhar os aspectos físico, cognitivo e social dos utentes.
Não duvido da seriedade,
competência ou empenho dos profissionais envolvidos nestas actividades de
equitação terapêutica destinadas a pessoas portadoras de deficiência física ou mental ou
com problemas de outra natureza. Também não duvido que nas crianças, jovens e
adultos destinatários da “equitação terapêutica” se registem alterações
positivas. Quando pessoas em situação mais vulnerável recebem atenção,
estímulos, apoio e envolvimento, por princípio, notar-se-á melhoria na sua
condição, independentemente da actividade, dentro do que sejam actividades racionais e
aceitáveis com é evidente.
As notas que se seguem partem
desta notícia mas relevam, fundamentalmente, de que nos últimos anos e no que
respeita aos problemas, de diferentes âmbitos e gravidade, que afectam as
crianças e adolescentes, sobretudo mas não só, tem vindo a emergir uma gama sem
fim de abordagens "terapêuticas" da mais variada natureza das quais,
numa espécie de pensamento mágico, se anunciam ou esperam resultados milagrosos
que nem sempre são comprovados com validade científica, embora muita gente
possa "atestar" melhoras que, evidentemente, alimentam o recurso a
esta gama do que eu chamo a "tudoterapia", ou seja, tudo é
terapêutico.
A minha inquietação decorre,
essencialmente, do que acontece com os pais, conheço muitas situações, quando
se envolvem nestas experiências. As suas fragilidades e impotência face aos
problemas que os filhos evidenciam, a vontade inesgotável de tentar ou
experimentar o que estiver ao seu alcance para que os problemas se atenuem ou
desapareçam, leva-os a investirem imenso nessas abordagens que, na verdade, não
são milagrosas e não têm resultados garantidos.
Para além dos custos, da
frustração em caso de insucesso, o mais provável na maior parte da
"tudoterapia", alguns pais podem ainda sentir-se culpados porque, por
exemplo, devido a circunstâncias económicas ou de acessibilidade, não podem
providenciar tais "terapêuticas" aos seus filhos. A
"evolução" que por vezes se regista em algumas situações, pode
dever-se, por exemplo, a um efeito placebo, a uma maior atenção estímulo
proporcionado à criança ou adolescente e não decorrer das propriedades
terapêuticas do procedimento, para as quais, como referi, não existe nas mais
das vezes, validade científica.
Neste cenário, os técnicos têm um
papel fundamental, embora difícil, de contenção das angústias e necessidades
dos pais, no sentido de procederem a abordagens sérias e realistas sobre os
objectivos, limites e resultados esperados das intervenções disponíveis,
ajudando e orientando as famílias nas escolhas e decisões.
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