O DN de hoje aborda uma matéria
que considero importante e que aqui também já tenho abordado, a pressão crescente
para que as crianças realizem aprendizagens escolares mais cedo, logo no jardim-de-infância. A esta pressão para a antecipação das aprendizagens escolares soma-se a pressão para que atinjam
desempenhos de excelência em múltiplas áreas. A peça parte da referência a um
estudo realizado nos EUA, sugestivamente intitulado "O jardim-de-infância é o novo primeiro ano?", do qual releva que o
que se esperava das crianças de 6 anos é hoje esperado, eu diria exigido, mais
cedo.
Este movimento que causa algumas
preocupações também subscritas pelos especialistas ouvidos pelo DN está também
bem presente nas nossas comunidades educativas.
De forma que considero
inquietante, fruto dos estilos de vida, valores e das dificuldades genéricas que
enfrentamos, tem vindo a instalar-se de mansinho em muitos pais, frequentemente
acompanhados pelas instituições educativas, uma atitude e um discurso de
exigência e de pressão para a excelência no desempenho dos miúdos, a começar
pelos resultados escolares. Dito de outra maneira, os miúdos são cada vez mais
pressionados para a produção e alto nível de rendimento e cada vez mais cedo
pois, supõe-se, ganharão vantagens.
Esta visão compromete desde logo
o cumprimento dos objectivos e função da educação de infância que não deve ser
vista como a “preparação para a escola” e, muito menos, como “o primeiro tempo
de escola” o que desvaloriza a sua verdadeira função e contém riscos para o
desenvolvimento das crianças e, sim, também para o seu sucesso educativo e
escolar.
Por outro lado, o clima instalado
relativamente à pressão para resultados e para excelência e à forma como o
sistema tem vindo a caminhar assumindo uma relação obsessiva com a medida, no
alimentar de um clima competitivo e selectivo, famílias mais escolarizadas e
que criam em muitas crianças uma pressão fortíssima para a excelência dos
resultados também contribuem para que a seguir à escola muitas crianças e
jovens caminhem para os centros de explicações que acabam for funcionar como
AAEs, Ateliers de Actividades Escolares respondendo como 2 em 1, tomam contas
das crianças e melhoram, espera-se, o seu rendimento escolar.
Acresce que esta excelência que é
exigida é extensiva a todas as áreas em que os miúdos se envolvem, devem ser
excelentes a tudo.
Deste entendimento, para além da
tempo infindo que os miúdos passam na escola, surge uma oferta com uma
diversidade espantosa que tornará as crianças fantásticas, excelentes, em
montanhas de coisas que lhes fazem uma falta tremenda para se prepararem para o
futuro, basta atentar na oferta disponível.
A vida de muitas crianças
transforma-se assim num espécie de agenda, passando o dia, incluindo
fins-de-semana, a saltar de actividade fantástica em actividade fantástica,
numa agitação sem fim.
Acontece que algumas crianças,
por questões de maturidade ou funcionamento pessoal, suportam de forma menos
positiva esta pressão o que poderá gerar o risco de disfuncionamento, rejeição
escolar e, finalmente, insucesso.
Também sei que em muitas destas
actividades estará presente uma genuína preocupação dos seus responsáveis pela
qualidade e adequação do trabalho que realizam com os miúdos. A questão é que
esse trabalho é apenas um dos mil trabalhos com que se vai enchendo a vida dos
miúdos.
A melhor forma de preparar os
miúdos para o futuro é cuidar bem deles no presente, desejavelmente sem faltas,
mas também sem excessos.
Sem comentários:
Enviar um comentário