quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

UM CONTO DE NATAL, PEQUENINO E ASSIM UM BOCADO SEM JEITO

Há poucas semanas uma campanha publicitária que recorreu a um Velho que anunciou a sua morte à família como forma de a reunir no jantar de Natal encheu as redes sociais. Recordou-me um Conto de Natal pequenino e um bocado sem jeito que já aqui divulguei e que recupero com o desejo de Bom Natal.

De acordo com a tradição naquela família, ao fim da noite de Natal chegava o momento mais aguardado, sobretudo pelos miúdos, a abertura dos presentes que estavam empilhados em grande número ao pé da árvore de Natal, ao lado do presépio.
Como também era habitual e devido à impaciência da espera, os mais novos eram sempre os primeiros a receber a generosidade do Pai Natal.
Assim, o Francisco, com a autoridade dos seus oito anos, começou ansiosamente a desembrulhar os muitos presentes que lhe estavam destinados. A cada um rapidamente desembrulhado a euforia aumentava. Ficou delirante com o telemóvel que desejava e lhe estava prometido em caso de boas notas escolares. Vibrou com a consola nova que os pais lhe ofereceram pois a que possuía estava desactualizada. Não fosse a vontade de conhecer o resto das prendas, já não largaria os novos companheiros o resto da noite.
Recebeu ainda um portátil mais pequeno e mais recente do que já tinha, uma série de videojogos já adaptados à nova consola e muitas outras prendas, várias peças de roupa, por exemplo, que, embora gostasse, era o que lhe interessava menos, a mãe comprava sempre o que ele escolhia.
O Francisco estava verdadeiramente nas nuvens ou, por assim dizer, completamente submerso pelo espírito natalício.
Por fim, apenas restava por abrir o presente do Avô Velho, um embrulho pequeno e discreto. O Francisco, com a agitação ao alto, abriu-o e mostrou um caderninho de capa dura e bege que tinha escrito na capa com a letra certinha e redonda do Avô Velho, "As minhas histórias". O Francisco deitou-lhe um olhar rápido e pousou-o num canto onde ficou o resto da noite.
Depois de toda a gente ter partido para descansar do espírito natalício, o Avô Velho ainda ficou mais um pouco na sala, releu duas ou três das suas histórias e percebeu que já não era deste mundo.
Devagarinho, para não acordar ninguém, enfiou-se pela chaminé e partiu.

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