A agenda das consciências
determina que hoje se cumpra o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência.
Como sempre o faço, umas notas que não se desactualizam, lamentavelmente.
Como é costume, durante o dia de
hoje surgirão peças peças na comunicação social, ouvir-se-á alguma da
retórica política aplicável à matéria em apreço, teremos alguns testemunhos,
positivos e negativos, de pessoas com deficiência. Assistiremos a algumas
iniciativas das instituições e movimentos que operam nesta área, também eu
participo em alguns, referir-se-ão alguns avanços de natureza tecnológica,
como se sabe as tecnologias mudam mais depressa que as pessoas, e amanhã o
mundo volta-se para outra questão que a agenda das consciências determine.
Em primeiro lugar deve dizer-se
que, como acontece em outras áreas, a legislação portuguesa é globalmente
positiva (no caso da educação tem alguns aspectos a carecer de ajustamento pois
são facilitadores de exclusão como muitas vezes tenho defendido) e promotora
dos direitos das pessoas, mas a sua falta de eficácia e operacionalização é bem
evidenciada na tremenda dificuldade que milhares de pessoas experimentam no
dia-a-dia que decorre, por exemplo, da falta de fiscalização relativa às
questões das acessibilidades e barreiras nos edifícios, mobiliário urbano e
acessibilidade em geral.
De facto, existem ainda muitos
serviços públicos e outro tipo de equipamentos de prestação de serviços com
barreiras arquitectónicas intransponíveis, a que os cidadãos com deficiência só
podem aceder com ajuda de terceiros e, mesmo assim, com dificuldade. Recorde-se as dificuldades recentemente sentidas na Assembleia da República para acolher o deputado Jorge Falcato.
Os transportes públicos de
diferente natureza também colocam enormes problemas na acessibilidade por parte
de pessoas com mobilidade reduzida.
As normas de construção não são
respeitadas, mantendo-se em edifícios novos a ausência de rampas ou a sua
existência com desníveis superiores ao estabelecido, constituindo, assim, um
risco sério de queda.
Para além deste quadro,
suficientemente complicado, ainda há que contar com a prestimosa colaboração de
muitos de nós que estacionamos o belo carrinho em cima dos passeios,
complicando ou proibindo, naturalmente, a circulação de cadeiras de rodas. Os
passeios, nem sempre com as medidas determinadas por lei, são, por vezes e
quase na totalidade, ocupados com esplanadas que, claro, são só mais uma
dificuldade para muita gente.
A vida de muitas pessoas com
deficiência é uma constante e infindável prova de obstáculos, muitas vezes
intransponíveis, que ampliam de forma inaceitável a limitação na mobilidade que
a sua condição, só por si, pode implicar.
Também para as crianças com deficiência
e respectivas famílias a vida é muito complicada face à qualidade e
acessibilidade aos apoios educativos e especializados necessários apesar do
empenho e profissionalismo da maioria dos profissionais que trabalham nestas
áreas. Os tempos que correm são particularmente gravosos nesta matéria como
muitas vezes tenho afirmado.
Como é evidente, existem muitas
outras áreas de dificuldades colocadas às pessoas com deficiência,
designadamente apoios sociais, qualificação profissional e emprego, em que a
vulnerabilidade e o risco de exclusão são elevados traduzido em taxas de desemprego
entre pessoas com deficiência muitíssimo superiores à verificada com a
população sem deficiência.
Termino com uma afirmação que
recorrentemente utilizo, os níveis de desenvolvimento das comunidades também se
aferem pela forma como lidam com as minorias e as suas problemáticas.
Sem comentários:
Enviar um comentário