sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

SABER E OPINIÃO

Já me tem acontecido com demasiada frequência que em troca de opiniões com pessoas com formação de áreas diferenciadas que não as Ciências Sociais, designadamente Educação ou Psicologia, áreas que conheço melhor, sobre matérias do seu universo de formação ou intervenção, perceber que os meus interlocutores desvalorizam o que exprimo pois não lhe reconhecem “saber” ou “ciência”.
Por outro lado, quando falo de assuntos da minha área de estudo de décadas, Psicologia e Educação, qualquer que seja a sua formação, muitos dos interlocutores afirmam com a maior das convicções opiniões sólidas e seguras sobre o que esteja em discussão e assumem como “saber”.
Quando era mais novo ainda tentava argumentar com base no que a ciência nestas áreas vai produzindo mas, dada a falta de efeito, vou desistindo.
Na verdade, “mete-me espécie” que engenharia, biologia, economia, medicina, etc., etc,. sejam áreas de “saber” e que educação ou psicologia sejam percebidas não áreas de saber mas como áreas de opinião que, naturalmente, qualquer pessoa pode apresentar e, assim, passar a ser “saber”.
Aliás, até já tenho visto referências às Ciências da Educação escritas com aspas e, frequentemente, com sentido pejorativo. Foi patente nos últimos anos a emergência de discursos diabolizando as “ciências da educação” identificando-as como o eixo mal responsável pelo que de mau vai acontecendo no mundo da educação. Elucidativo. Seria estranho, no mínimo, alguém afirmar que o que se sabe e estuda em engenharia num qualquer ramo é prejudicial … à engenharia
“Mete-me espécie” que o que eu afirmo dentro da minha área não seja percebido como saber, não seja percebido como ciência, seja opinião e, como tal, passível de discussão com base noutra opinião enquanto o discurso do meu interlocutor sobre a sua área de intervenção seja “saber” pelo que um leigo como eu não o pode abordar.
A título de exemplo, veja-se a nuvem de abordagens que apareceu na imprensa sobre o fim dos exames do 4º ano agora decidido e quantas eram subscritas por gente com trabalho e estudo neste universo ou quantas assentavam ou decorriam de desse saber e estudo independentemente da posição afirmada. A maioria era constituída por opiniões sem sustentação sobre o que se sabe e estuda sobre esta importante questão.
Não é grave que se construa opinião sobre qualquer assunto da nossa vida. É desejável e estimulante para toda a gente que assim seja. O que me “mete espécie” é que se entenda que opinião é ciência ou, quando convém, que a ciência não é ciência é opinião e como tal deva ser tratada.
Ao fim de quarenta anos de lida já estou mais habituado mas lá que me “mete espécie” … mete.

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