Já me tem acontecido com
demasiada frequência que em troca de opiniões com pessoas com formação de áreas
diferenciadas que não as Ciências Sociais, designadamente Educação ou
Psicologia, áreas que conheço melhor, sobre matérias do seu universo de
formação ou intervenção, perceber que os meus interlocutores desvalorizam o que
exprimo pois não lhe reconhecem “saber” ou “ciência”.
Por outro lado, quando falo de
assuntos da minha área de estudo de décadas, Psicologia e Educação, qualquer que
seja a sua formação, muitos dos interlocutores afirmam com a maior das
convicções opiniões sólidas e seguras sobre o que esteja em discussão e assumem
como “saber”.
Quando era mais novo ainda
tentava argumentar com base no que a ciência nestas áreas vai produzindo mas,
dada a falta de efeito, vou desistindo.
Na verdade, “mete-me espécie” que
engenharia, biologia, economia, medicina, etc., etc,. sejam áreas de “saber” e que
educação ou psicologia sejam percebidas não áreas de saber mas como áreas de
opinião que, naturalmente, qualquer pessoa pode apresentar e, assim, passar a
ser “saber”.
Aliás, até já tenho visto
referências às Ciências da Educação escritas com aspas e, frequentemente, com
sentido pejorativo. Foi patente nos últimos anos a emergência de discursos
diabolizando as “ciências da educação” identificando-as como o eixo mal responsável
pelo que de mau vai acontecendo no mundo da educação. Elucidativo. Seria estranho,
no mínimo, alguém afirmar que o que se sabe e estuda em engenharia num qualquer
ramo é prejudicial … à engenharia
“Mete-me espécie” que o que eu
afirmo dentro da minha área não seja percebido como saber, não seja percebido
como ciência, seja opinião e, como tal, passível de discussão com base noutra
opinião enquanto o discurso do meu interlocutor sobre a sua área de intervenção
seja “saber” pelo que um leigo como eu não o pode abordar.
A título de exemplo, veja-se a
nuvem de abordagens que apareceu na imprensa sobre o fim dos exames do 4º ano
agora decidido e quantas eram subscritas por gente com trabalho e estudo neste
universo ou quantas assentavam ou decorriam de desse saber e estudo independentemente da posição afirmada. A maioria era constituída por opiniões sem sustentação sobre o que
se sabe e estuda sobre esta importante questão.
Não é grave que se construa
opinião sobre qualquer assunto da nossa vida. É desejável e estimulante para
toda a gente que assim seja. O que me “mete espécie” é que se entenda que
opinião é ciência ou, quando convém, que a ciência não é ciência é opinião e
como tal deva ser tratada.
Ao fim de quarenta anos de lida já
estou mais habituado mas lá que me “mete espécie” … mete.
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