As próximas eleições
presidenciais de que já vivemos a pré-campanha assumem contornos de particular
importância face à situação política actual, face ao cinzentismo cúmplice do exercício
de Cavaco Silva, sobretudo durante o segundo mandato e, finalmente, pela
candidaturas que se conhecem.
Considerando os candidatos com
mais base de apoio e da direita para a esquerda vejamos alguns aspectos.
Marcelo Rebelo de Sousa, mais
conhecido por Professor, um entertainer político com presença constante nas televisões, pertence ao PSD sentiu um chamamento, não resistiu e, contrariando os
desejos de Passos Coelho, candidatou-se. Rui Rio, o preferido pela direcção do
PSD, acobardou-se com a mediática figura e agora, como não podia deixar de ser,
PSD e CDS-PP vão declarar o seu apoio a Marcelo Rebelo de Sousa. Este, apesar
de precisar dos apoios, está aflito porque percebe o risco de que a esquerda
possa colá-lo à PàF e vai daí, pesca à esquerda para desespero da direita. Não
diz que demite o Governo do PS, não o considera ilegítimo, até expressa o
desejo de que corra bem e procura espalhar simpatia.
Afirma que espera ganhar à
primeira volta pois percebe com clareza que que a segunda volta não são favas
contadas sobretudo se defrontar Sampaio da Nóvoa. Daí o namoro à esquerda ou,
melhor dizendo, a uma parte da esquerda.
Bom, depois temos Maria de Belém
que a direita do PS que não apoia a solução de Governo de esquerda lançou com a
intenção clara de enfraquecer Sampaio da Nóvoa que sabia contar com o apoio de
António Costa a quem a derrota eleitoral do PS não deixou formalizar esse apoio. Maria de Belém acaba por se tornar a candidatura que mais agrada à PàF pois
a sua inocuidade é certamente mais amigável que a instabilidade e cataventismo de
Marcelo. Sempre que intervém percebe-se o deserto de ideias e de visão de Maria
de Belém e dá para perceber os suspiros de Coelho e Portas por um candidato com
este perfil muito mais sossegadinho e na linha de Cavaco Silva com o mantra do
temos de ser amiguinhos, sobretudo os amiguinhos do costume, claro.
Deixando Sampaio da Nóvoa para o fim temos
os candidatos oficiais do PCP, Edgar Silva, e do BE, Marisa Matias. São
candidaturas que não têm uma estratégia para as presidenciais mas,
evidentemente, uma estratégia para os respectivos partidos ao serviço da qual
porão a campanha e os tempos de antena apesar da vantagem óbvia do Professor
neste particular, uma experiência de anos. Em caso de segunda volta é provável
que PCP e BE voltem a uma estratégia para as presidenciais. No entanto, para
isso seria necessário, primeiro que exista segunda volta e depois que à segunda
volta passe Sampaio da Nóvoa. Se tal não acontecer resta agradecer o contributo
de ambos os partidos para a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa.
Finalmente, Sampaio da Nóvoa. Sem
esperar por resultados eleitorais ou a definição de interesses partidários
Sampaio da Nóvoa lançou uma candidatura que emerge do espaço da cidadania e não
do espaço dos partidos sem que seja contra os partidos, não pode nem deve
evidentemente. Sampaio da Nóvoa apresenta um discurso e uma visão sobre o
exercício da função presidencial dirigida aos portugueses e não a parte dos
portugueses, humanista, clara e distinta do já referido cinzentismo cúmplice e demitido que
caracterizaram os últimos dez anos de prática presidencial.
Como já tenho escrito e sendo
suspeito, apoio desde o início a candidatura de Sampaio da Nóvoa, julgo que
teria sido desejável que em torno desta candidatura, a mais adequada aos tempos
que vivemos, se construísse um consenso à esquerda que me parece ser a única
forma de evitar uma vitória de Marcelo Rebelo de Sousa na primeira volta e
tentar que na segunda volta a maioria que se estabeleceu no Parlamento se
traduzisse numa vitória clara de Sampaio da Nóvoa.
De facto, estas eleições
presidenciais são tão importantes quanto atípicas, um candidato da direita de
que a direita não gosta particularmente mas terá de apoiar, uma candidata vinda
da esquerda que se confunde com a direita a quem agrada, duas candidaturas que
o não são e uma candidatura de que o país precisa mas que pode ser comprometida
por aqueles de quem mais se esperaria o apoio.
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