terça-feira, 8 de dezembro de 2015

AS PRESIDENCIAIS ATÍPICAS

As próximas eleições presidenciais de que já vivemos a pré-campanha assumem contornos de particular importância face à situação política actual, face ao cinzentismo cúmplice do exercício de Cavaco Silva, sobretudo durante o segundo mandato e, finalmente, pela candidaturas que se conhecem.
Considerando os candidatos com mais base de apoio e da direita para a esquerda vejamos alguns aspectos.
Marcelo Rebelo de Sousa, mais conhecido por Professor, um entertainer político com presença constante nas televisões, pertence ao PSD sentiu um chamamento, não resistiu e, contrariando os desejos de Passos Coelho, candidatou-se. Rui Rio, o preferido pela direcção do PSD, acobardou-se com a mediática figura e agora, como não podia deixar de ser, PSD e CDS-PP vão declarar o seu apoio a Marcelo Rebelo de Sousa. Este, apesar de precisar dos apoios, está aflito porque percebe o risco de que a esquerda possa colá-lo à PàF e vai daí, pesca à esquerda para desespero da direita. Não diz que demite o Governo do PS, não o considera ilegítimo, até expressa o desejo de que corra bem e procura espalhar simpatia.
Afirma que espera ganhar à primeira volta pois percebe com clareza que que a segunda volta não são favas contadas sobretudo se defrontar Sampaio da Nóvoa. Daí o namoro à esquerda ou, melhor dizendo, a uma parte da esquerda.
Bom, depois temos Maria de Belém que a direita do PS que não apoia a solução de Governo de esquerda lançou com a intenção clara de enfraquecer Sampaio da Nóvoa que sabia contar com o apoio de António Costa a quem a derrota eleitoral do PS não deixou formalizar esse apoio. Maria de Belém acaba por se tornar a candidatura que mais agrada à PàF pois a sua inocuidade é certamente mais amigável que a instabilidade e cataventismo de Marcelo. Sempre que intervém percebe-se o deserto de ideias e de visão de Maria de Belém e dá para perceber os suspiros de Coelho e Portas por um candidato com este perfil muito mais sossegadinho e na linha de Cavaco Silva com o mantra do temos de ser amiguinhos, sobretudo os amiguinhos do costume, claro.
Deixando Sampaio da Nóvoa para o fim temos os candidatos oficiais do PCP, Edgar Silva, e do BE, Marisa Matias. São candidaturas que não têm uma estratégia para as presidenciais mas, evidentemente, uma estratégia para os respectivos partidos ao serviço da qual porão a campanha e os tempos de antena apesar da vantagem óbvia do Professor neste particular, uma experiência de anos. Em caso de segunda volta é provável que PCP e BE voltem a uma estratégia para as presidenciais. No entanto, para isso seria necessário, primeiro que exista segunda volta e depois que à segunda volta passe Sampaio da Nóvoa. Se tal não acontecer resta agradecer o contributo de ambos os partidos para a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa.
Finalmente, Sampaio da Nóvoa. Sem esperar por resultados eleitorais ou a definição de interesses partidários Sampaio da Nóvoa lançou uma candidatura que emerge do espaço da cidadania e não do espaço dos partidos sem que seja contra os partidos, não pode nem deve evidentemente. Sampaio da Nóvoa apresenta um discurso e uma visão sobre o exercício da função presidencial dirigida aos portugueses e não a parte dos portugueses, humanista, clara e distinta do já referido cinzentismo cúmplice e demitido que caracterizaram os últimos dez anos de prática presidencial.
Como já tenho escrito e sendo suspeito, apoio desde o início a candidatura de Sampaio da Nóvoa, julgo que teria sido desejável que em torno desta candidatura, a mais adequada aos tempos que vivemos, se construísse um consenso à esquerda que me parece ser a única forma de evitar uma vitória de Marcelo Rebelo de Sousa na primeira volta e tentar que na segunda volta a maioria que se estabeleceu no Parlamento se traduzisse numa vitória clara de Sampaio da Nóvoa.
De facto, estas eleições presidenciais são tão importantes quanto atípicas, um candidato da direita de que a direita não gosta particularmente mas terá de apoiar, uma candidata vinda da esquerda que se confunde com a direita a quem agrada, duas candidaturas que o não são e uma candidatura de que o país precisa mas que pode ser comprometida por aqueles de quem mais se esperaria o apoio.

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