A este propósito recordo um
estudo realizado pelo ISPA - Instituto Universitário, divulgado em 2015 segundo
o qual cerca de 30% dos 800 professores inquiridos revela risco de burnout, estado
de esgotamento físico e mental provocado pela vida profissional, associado a
baixos níveis de satisfação profissional.
Os professores mais velhos, do
ensino secundário ou os que lidam com alunos com necessidades educativas
especiais apresentam níveis mais elevados de burnout e sentem mais a falta de
reconhecimento profissional.
Como causas mais contributivas
para este cenário de stress profissional são identificadas turmas com elevado número de alunos, o
comportamento indisciplinado e desmotivação dos alunos, a pressão para o
sucesso, insatisfação com as condições de desempenho, carga horária e
burocrática, falta de trabalho em equipa, falta de apoio e suporte das
lideranças da escola.
Na verdade, os dados só podem
surpreender quem não conhece o universo das escolas, como acontece com boa
parte dos opinadores que pululam pela comunicação social perorando sobre
educação e sobre os professores. Aliás, esta situação verifica-se noutros
países, sendo que para além dos professores, os profissionais de saúde e de
apoios sociais também integram os grupos profissionais mais sujeitos a stress e burnout.
É fácil avaliar a importância e
consequências das situações de mal-estar envolvendo os docentes. Alguns dos
discursos que de forma ligeira e muitas vezes ignorante ocupam tempo de antena
na imprensa, parecem esquecer a importância deste trabalho e das circunstâncias
em que se desenvolve.
É complicada a tarefa de
professor em algumas escolas que décadas de incompetência na gestão urbanística
e consequente guetização social produziram.
Os valores, padrões e estilos e
vida das famílias alteraram-se significativamente fazendo derivar para a
escola, para os professores, parte do papel que competia(e) à família. Este
trabalho é realizado, muitas vezes, sem qualquer tipo de apoio ou suporte, com
cada professor entregue a si mesmo.
Importa ainda considerar o
impacto de variáveis relativas à estabilidade e segurança profissional, bem como os modelos de carreira e progressão. Acrescem ainda questões como a liderança a autonomia das escolas variáveis importantes na construção dos climas das instituições.
Também deve ser ponderada a
deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas
décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo,
um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. Acresce que
sucessivas equipas ministeriais têm empreendido um empenhado processo de
desvalorização dos professores com impacto evidente nas relações que a
comunidade estabelece com estes profissionais
Com muita frequência os
professores são injustiçados na apreciações de muita gente que no minuto a
seguir à afirmação de uma qualquer ignorante barbaridade, vai, numa espécie de
exercício sadomasoquista, entregar os filhos nas mãos daqueles que destrata,
depreendendo-se assim que, ou quer mal aos filhos ou desconhece os professores
e os seus problemas. Também são conhecidos os casos sucessivos de agressão e
insulto por parte de alunos e famílias.
A forma como os miúdos, pequenos
e maiores, vêem e se relacionam com os professores está directamente ligada à
forma como os adultos os vêem e os discursos que fazem e isto contamina a
serenidade do processo de trabalho.
É também imprescindível que a
educação e os problemas dos professores não sejam objecto de luta política
baixa e desrespeitadora dos interesses dos miúdos, mesmo por parte dos que se
assumem como seus representantes.
Na verdade, ser professor é uma
das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é
seguramente uma das mais difíceis e que mais respeito deveria merecer.
Os sistemas educativos com
melhores resultados são, justamente, os sistemas em que os professores são mais
valorizados, apoiados e reconhecidos.
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