Esta questão deve ser vista com
prudência e sem “facilitismos” de natureza simbólica tal como afirmei a
propósito da extinção do exame do 4º ano.
De facto se a sua existência, só por si, nunca
me pareceu um contributo sólido para a qualidade da educação o que é suportado
por estudos, comparações e relatórios internacionais, a sua extinção, só por si, também não
traz qualidade. Importa ainda considerar a importância da existência de
dispositivos de avaliação externa.
Na mesma linha deverá ser
cauteloso o processo relativo às metas curriculares embora tenhamos sempre de
considerar a tentação do “ímpeto reformista” que as sucessivas equipas do ME
sentem levando o sistema a uma deriva inconsequente e com efeitos negativos.
Estou perfeitamente à vontade
porque desde o início afirmei que as metas curriculares, tal como estão
definidas, são parte do problema e não parte da solução. Trabalhos como o da
Professora Dulce Gonçalves da Universidade de Lisboa sobre o 1º ciclo, a posição
da esmagadora maioria das associações profissionais de professores e o contacto
com muitos professores e escolas mostram a tremenda dificuldade criada a
professores e alunos pela forma como estão definidas as metas curriculares.
No entanto, insisto, a mudança
deve ser muito cautelosamente e solidamente preparada.
As metas curriculares, com esta
ou outra designação podem e devem funcionar como uma ferramenta orientadora e
útil para o trabalho de alunos e professores. Para que isso aconteça deverão
ser de simples utilização e operacionalização e decorrentes de modelos
curriculares diferentes dos actuais, demasiado extensos, prescritivos e
espartilhados.
Como exemplo vejamos apenas o 1º
ciclo em Matemática e Português. Em Matemática são definidos 3 domínios que se
desdobram como segue. No 1º ano, em 8 sub-domínios, 13 objectivos e 62
descritores, no 2º ano em 11 sub-domínios, 22 objectivos e 82 descritores, no
3º ano em 11 sub-domínios, 22 objectivos e 98 descritores e no 4º ano em 6
sub-domínios, 15 objectivos e 81 descritores o que em síntese corresponde a 72
objectivos e 323 descritores para Matemática do 1º ciclo.
Se juntarmos Português teremos um
total de 177 objectivos e 703 descritores. Por anos, temos: no 1º ano, 33
objectivos e 143 descritores; no 2º, 47 objectivos e 168 descritores; no 3º, 51
objectivos e 202 descritores e no 4º, 46 objectivos e 190 descritores. É obra,
uff.
O Programa de Português para o
ensino Básico estabelece perto de 1 000 metas curriculares,
Este entendimento pode levar a
que o ensino se transforme na gestão de uma espécie de "check list"
das metas estabelecidas implicando a impossibilidade de acomodar as diferenças,
óbvias, entre os alunos, os seus ritmos de aprendizagem.
Aliás, neste contexto recordo a
afirmação dos autores das metas curriculares, de que estas estabelecem o que os
alunos deverão imprescindivelmente revelar, “exigindo da parte do professor o
ensino formal de cada um dos desempenhos referidos nos descritores”.
Este cenário, aplicado em todas
as áreas ou disciplinas, em turmas de 26 alunos no 1º ciclo e de 30 a partir do
5º ano, constituídas por alunos com ritmos diferentes e assimetrias nos seus
percursos e competências, deixa-me uma imensidade de dúvidas sobre a aplicação
das metas curriculares, tal como estão definidas actualmente.
Em síntese, sim esta situação
necessita ajustamentos mas “depressa e bem não há quem” e as “reformas” devem
ser preparadas com competência, com participação, com recursos e com
tempo.
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