sábado, 26 de dezembro de 2015

PROLETARIZAÇÃO DA ECONOMIA

Salário mínimo pago aos mais qualificados

O JN de hoje refere com chamada a primeira página o aumento do número de jovens licenciados que estão a ser remunerados pelo salário mínimo ou nem isso.
A forma como é titulada a notícia constitui um exemplo, mais um, da mensagem que pode ter efeitos perversos, ou seja, não adianta estudar, não terão emprego, ou terão ofertas precárias e mal remuneradas.
Acontece que, como tantas vezes tenho afirmado, esta situação trágica não acontece pelo facto dos jovens serem qualificados. Todos os estudos e indicadores mostram que Portugal ainda é um dos países em que a qualificação de nível superior é mais recompensada. Não, não temos qualificações a mais, temos desenvolvimento a menos e opções políticas erradas.
Uma política de empobrecimento e proletarização da economia e do trabalho não produz desenvolvimento e promove salários baixos e precariedade.
Na verdade, boa parte dos vencimentos em empregos mais recentes, mesmo com gente qualificada, não são um vencimento, são um subsídio de sobrevivência. É justamente a luta pela sobrevivência que deixa muita gente, sobretudo jovens sem subsídio de desemprego e à entrada no mundo do trabalho sem margem negocial, altamente fragilizada e vulnerável, que entre o nada e a migalha "escolhe amigavelmente" a "migalha", ou mesmo uma remota hipótese de um emprego no fim de um período de indigno trabalho gratuito.
Como é evidente, esta dramática situação vai-se alargando de mansinho e numa espécie de tsunami vai esmagando novos grupos sociais e famílias.
É um desastre. Grave e dramático é que as pessoas são "obrigadas" a aceitar. Os mercados sabem disso, as pessoas são activos descartáveis.
Ter como preocupação quase exclusiva o abaixamento dos custos do trabalho através do aumento da carga horária, da precariedade e do abaixamento de salários não será a forma mais eficaz de combater o desemprego, promover desenvolvimento e criação de riqueza.
Parece razoavelmente claro que a proletarização da economia e o empobrecimento das famílias não poderão ser a base para o desenvolvimento e promoção de coesão social.

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