Salário mínimo pago aos mais qualificados
O JN de hoje refere com chamada a
primeira página o aumento do número de jovens licenciados que estão a ser
remunerados pelo salário mínimo ou nem isso.
A forma como é titulada a notícia
constitui um exemplo, mais um, da mensagem que pode ter efeitos perversos, ou
seja, não adianta estudar, não terão emprego, ou terão ofertas precárias e mal
remuneradas.
Acontece que, como tantas vezes
tenho afirmado, esta situação trágica não acontece pelo facto dos jovens serem
qualificados. Todos os estudos e indicadores mostram que Portugal ainda é um
dos países em que a qualificação de nível superior é mais recompensada. Não,
não temos qualificações a mais, temos desenvolvimento a menos e opções
políticas erradas.
Uma política de empobrecimento e
proletarização da economia e do trabalho não produz desenvolvimento e promove
salários baixos e precariedade.
Na verdade, boa parte dos
vencimentos em empregos mais recentes, mesmo com gente qualificada, não são um
vencimento, são um subsídio de sobrevivência. É justamente a luta pela
sobrevivência que deixa muita gente, sobretudo jovens sem subsídio de desemprego
e à entrada no mundo do trabalho sem margem negocial, altamente fragilizada e
vulnerável, que entre o nada e a migalha "escolhe amigavelmente" a
"migalha", ou mesmo uma remota hipótese de um emprego no fim de um
período de indigno trabalho gratuito.
Como é evidente, esta dramática
situação vai-se alargando de mansinho e numa espécie de tsunami vai esmagando
novos grupos sociais e famílias.
É um desastre. Grave e dramático
é que as pessoas são "obrigadas" a aceitar. Os mercados sabem disso,
as pessoas são activos descartáveis.
Ter como preocupação quase
exclusiva o abaixamento dos custos do trabalho através do aumento da carga
horária, da precariedade e do abaixamento de salários não será a forma mais
eficaz de combater o desemprego, promover desenvolvimento e criação de riqueza.
Parece razoavelmente claro que a
proletarização da economia e o empobrecimento das famílias não poderão ser a
base para o desenvolvimento e promoção de coesão social.
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