O Director-geral da Saúde bem
como Luís Graça, director do serviço de obstetrícia do Hospital de Santa Maria
alertam, para os riscos da tendência crescente de realização de partos em casa, referindo a situação dramática em que muitos bebés chegam aos serviços hospitalares depois de partos domiciliários sem o suporte adequado.
Segundo Luís Graça citando um
estudo realizado nos Estados Unidos, dois de cada três bebés que morrem no
parto domiciliário, seriam salvos se o parto se realizasse em hospital, pois "o
parto hospitalar é o mais seguro".
Não conheço números actuais mas
recordo que entre 2000 e 2008 o número de partos domiciliários duplicou, de 480
em 2000 para cerca de 900 em 2008.
Este aumento surpreende e
preocupa, desde logo porque a mortalidade infantil em partos domésticos é
reconhecidamente superior relativamente aos partos em instituições, sendo que
os riscos desta opção ou "moda" como lhe chamou Ana Jorge enquanto
Ministra da Saúde são geradoras de risco elevado.
Na verdade, podemos dizer que,
quando corre bem, até em casa corre bem, a questão coloca-se, quando surgem
complicações que em casa não têm condições de ser respondidas.
É verdade que os partos
hospitalares, sobretudo nas instituições de saúde privadas, constituem, por
assim dizer, um nicho de mercado com um recurso desproporcionado a intervenção
especializada, citemos como exemplo, o número extremamente elevado de
cesarianas para as quais, certamente, não existirão indicações clínicas como
várias estudos e comparações com a realidade de outros países sugerem.
Também é verdade, que mesmo em
situação hospitalar poderemos ter riscos ou falta de qualidade na resposta mas
do ponto de vista dos bebés e também das mães, esses risco estarão
evidentemente mais controlados.
Há alguns meses uma reportagem
televisiva, relatava dois casos de famílias que levantaram processos a
especialistas de enfermagem obstétrica que realizaram partos em casa com
resultados muito complicados.
Dadas as questões corporativas
envolvidas, não é estranha a divergência de posições entre a Ordem dos
Enfermeiros e a Ordem dos Médicos para quem o parto em casa é um retrocesso em
matéria de cuidados de saúde e prevenção, posição que me parece bem mais ajustada.
Volto à afirmação, "quando
corre bem, até em casa corre bem", regularmente existem histórias com final
feliz de crianças que nascem, por exemplo, nas ambulâncias, mas o problema é
quando corre mal.
Sei por experiência familiar, que
se não fosse a qualidade da resposta da Maternidade Alfredo da Costa, que agora
está ameaçada, se aquele parto ocorrido há trinta e poucos anos fosse em casa,
provavelmente teríamos vivido uma experiência dramática.
Finalmente, parece-me importante
que se retome a experiência natural do parto, sem os excessos da
"sofisticação médica" ou, obscuros interesses comerciais, mas partos
em casa, cuidado, os pais poderão sofrer mas a conta é da criança.
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