Foi aprovado em Conselho de Ministros o diploma que regula
as habilitações para a docência.
Não conheço os conteúdos do diploma mas para além do aumento
da duração dos ciclos de estudos de formação de professores que me parece aceitável, designadamente nos ciclos de estudo que apenas duravam dois semestres.
No entanto, é pública a sobrevalorização no discurso do
Ministro Nuno Crato com o que chama “conhecimento científico” significando os
conhecimentos próprios à área científica que se lecciona, isto é, para o ensino
do Inglês o essencial é que o professor saiba Inglês. Paralelamente subvaloriza
outro gama de conhecimentos que são acantonados nas diabolizadas “Ciências da
Educação”, frequentemente responsabilizadas por alguns opinadores, incluindo o Nuno
Crato, pelos males que afectam a educação.
Como muitas vezes tenho afirmado a propósito de várias
matérias, a indisciplina escolar, por exemplo, que é importante melhorar os
programas de formação de professores. No entanto, creio que qualquer pessoa
dentro do universo da Educação em Portugal tem clara consciência que, em termos
globais pois existem sempre excepções, o conhecimento científico dos
professores, sobre as matérias que ensinam não é um problema central. É
razoavelmente evidente, só para dar alguns exemplos que para além do
conhecimento científico da matéria que se ensina, importa o conhecimento sobre
a forma de ensinar essa matéria, a forma de aprender essa matéria e a forma de
avaliar essa matéria. Claro que o Ministro da Examinação do alto da arrogância
da ignorância entende que ensinar Matemática numa turma do 3º ciclo com 30
alunos de uma escola cheia de problemas ou ensinar Matemática a uma turma de
igual efectivo um estabelecimento privado altamente exclusivo é “apenas” um
problema de saber … Matemática.
Nesta perspectiva, os programas de formação de professores
deverão, naturalmente, ser equilibrados no espaço atribuído aos “conhecimentos
científicos” relativos à área que se ensina, aos aspectos relativos à
pedagogia, à aprendizagem, à didáctica, às variáveis de natureza psicológica,
social e afectiva próprias dos processos educativos, etc. que, desculpe lá
Professor Nuno Crato, também são, evidentemente, “conhecimento científico”.
Como é habitual, Nuno Crato sustenta tudo o que faz com a
retórica da qualidade, também estas mudanças radicam, segundo o Ministro, na qualidade. A referência já não colhe.
Boa parte das políticas educativas subscritas pelo MEC tem
atropelado a qualidade da escola e o trabalho dos professores e alunos. Só para
dar alguns exemplos, é difícil argumentar que o aumento do número de alunos por
turma, mudanças curriculares insustentáveis, corte nos recursos para apoiar
alunos e professores, os maus tratos à educação especial, os cortes e a deriva
no que respeita à colocação de professores, etc., etc., sejam contributos para
a qualidade da escola pública em Portugal.
Vamos aguardar.
2 comentários:
Bem pode a formação de professores ser dilatada para 10 anos, com Doutoramentos e Pós-Doutoramentos, em aprofundadíssimos conhecimentos científicos, que com 31 alunos numa turma (como se vive por aqui), ainda por cima num espaço desenhado para 28 alunos no máximo, onde se tornou quase impossível circular entre as filas, não haverá ciência que se lhe aplique!
Pois ...
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