sexta-feira, 18 de maio de 2012

VOU-ME EMBORA, VOU PARTIR ...

“Vou-me embora, vou partir, mas tenho esperança”, começa assim a moda do Meu Alentejo popularizada por Vitorino e que serve de introdução a umas notas sobre algo a que não podemos deixar de atribuir um enorme significado. Segundo o INE, só em Abril inscreveram-se nos Centros de Emprego 29212 jovens com menos de 25 anos. O CM avança em primeira página com o abandono do país nos primeiros três meses do ano por parte de 57 000 jovens com menos de 34 anos. Este movimento constitui o maior fluxo migratório dos últimos 40 anos, um assombro.
Está dramática a vida e a expectativa de futuro de muitos dos mais novos. Mesmo nos que ficam e conseguem entrar no mercado de trabalho, com dados de 2011, 40% dos jovens entre 15 e 34 anos tem um vencimento inferior a 600 €. Ainda segundo dados do INE é relevante saber que cerca de 8% trabalha a recibo verde e 55 % tem uma relação laboral precária.
É também conhecido que o desemprego jovem atingiu recentemente o dramático valor de 36.2 %, a terceira taxa mais alta da UE.
Também, segundo dados do INE de há meses, 314 000 jovens não estudam nem trabalham, a designada situação “nem nem”. Estes números, atendendo à dimensão do país são absolutamente dramáticos.
A precariedade nas relações laborais quase duplicou na última década. Portugal é o segundo país da Europa, a seguir à Polónia, com maior nível de contratos a prazo. Por outro lado, as políticas de emprego anunciadas incluem a maior flexibilização das relações laborais o que, naturalmente, é coerente com os ventos neo-liberais e o endeusamento do mercado que tudo permite, incluindo roubar a dignidade às pessoas e promover exclusão.
Deste cenário e dos números do desemprego, resulta que os mais novos à entrada no mercado de trabalho são os mais vulneráveis ao desemprego e à precariedade quando, apesar das dificuldades, acedem a algum emprego. Este quadro, curiosamente, afecta a mais qualificada jovem de sempre.
Esta situação complexa e de difícil ultrapassagem tem, obviamente, sérias repercussões nos projectos de vida das gerações que estão a bater à porta da vida activa. Entre outras, contar-se-ão, os indicadores mostram-no, o retardar da saída de casa dos pais por dificuldade no acesso a condições de aquisição ou aluguer de habitação própria ou o adiar de projectos de paternidade e maternidade que por sua vez se repercutem no inverno demográfico que atravessamos e que é uma forte preocupação no que respeita à sustentabilidade dos sistemas sociais.
No entanto, um efeito muito significativo mas menos tangível desta precariedade no emprego, é a promoção de uma dimensão psicológica de precariedade face à própria vida no seu todo e que, com alguma frequência, os discursos das lideranças políticas acentuam.
Dito de outra maneira, pode instalar-se, está a instalar-se, uma desesperança que desmotiva e faz desistir da luta por um projecto de vida de que se não vislumbra saída motivadora e que recompense. Podemos estar perante as gerações perdidas de que há algum tempo se falava. A partida parece ser uma escapatória de futuro para estes jovens mas representa sempre um empobrecimento para o país.
Voltando à moda alentejana pode ser que o seu fim nos devolva algum optimismo, “eu hei-de ir, hei-de voltar com o tempo”.

3 comentários:

João A. Quadrado disse...

Em resumo, até nem parece grave: sempre temos o Europeu quase a começar, as televisões dos "Idolos" e afins que prometem a fama ao virar duma qualquer esquina... nem que para isso baste ligar um número de telefone que aliás é sempre o mesmo e que nos dá carros, dinheiro e sabe-se lá que mais; sempre temos a mais devota "Fé do Euromilhões" a cada sexta-feira... e temos, temos tudo "pra dar certo", mas são os números... os números são os que teimam em trair-nos: ah, que maldita matemática!

Um abraço,

Leonardo B.

Zé Morgado disse...

A questão é que cada um daqueles números é uma pessoa,ou melhor, um activo descartável

Zé Morgado disse...

A questão é que cada um daqueles números é uma pessoa,ou melhor, um activo descartável