O país está sujeito a uma “carga fiscal insuportável”. Esta
frase foi proferida pelo Primeiro-ministro durante o debate na Assembleia da República.
Qualquer cidadão, dos que pagam impostos, este é uma outra questão, a
subscreve, é óbvio que a classe média pagadora de impostos está a conhecer
dificuldades não antecipadas e, em muitas famílias, a atingir o insuportável,
citando Passos Coelho.
Sabemos todos da situação a que conduziram as políticas nas
últimas décadas, sofremo-las, aliás. Não é, portanto, possível afirmar de forma
séria que o actual Primeiro-ministro é o culpado do estado do país. No entanto,
é obviamente responsável pela “carga fiscal insuportável” a que o país está
sujeito. Tal como é responsável por outras afirmações como "desemprego pode ser uma oportunidade", que face a dramas familiares que são por demais conhecidos e que as instituições de solidariedade social dificilmente conseguem atenuar, sugerem uma alheamento da vida das pessoas e uma insensiblidade que embaraça.
As suas escolhas em matéria política, enfeudadas a um
programa de governo imposto pela troika, têm sido em muitos aspectos mais
pesadas do que os governantes de Bruxelas ou do FMI exigem, impondo um caminho
de austeridade com sacrifícios assimetricamente distribuídos como a própria União
Europeia reconheceu e que Passos Coelho entende aplicar, “custe o que custar”,
citando-o de novo.
Na verdade, está a custar muito, a desvalorização dos
salários dos portugueses, 12 % entre 2011 e 2013, aumento da carga fiscal, 15,5
% de desempregados, 35 % de jovens sem emprego e mudanças na legislação do trabalho que a torna mais flexível, ler despedimentos mais fáceis e mais
baratos, custos do acesso aos serviços de saúde que impedem muitas pessoas de a
eles recorrerem, escolas e autarquias aflitas com o aumento de crianças mal
alimentadas, muitos alunos a desistirem no ensino superior por dificuldades em
assegurar os custos de frequência, milhares de famílias sobreendividadas, etc.,
etc.
Não, não é apenas a carga fiscal que é “insuportável”, a
vida de muita gente está insuportável sendo que até a dignidade sentem ameaçada.
Vão viver como e de quê?
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