Houve um tempo em que as diferentes terras
decidiram realizar provas de canoagem. Cada canoa tinha onze tripulantes.
Depois de várias provas verificava-se que a canoa
que representava aquela terra onde acontecem coisas ficava quase sempre em
último lugar. Tentando perceber a razão de tão magros resultados os
responsáveis daquela terra criaram um grupo de trabalho para analisar a questão
e, naturalmente, propor soluções.
A profícua, demorada e cara análise do grupo de
trabalho mostrou que, de uma forma geral, as canoas das outras terras tinham um
timoneiro e dez remadores enquanto a canoa da terra onde acontecem coisas tinha
um director-geral, dois assessores, dois subdirectores-gerais, dois directores
de serviço, três chefes de divisão e um remador.
Ao constatar tal cenário, o grupo de trabalho
logo viu a razão dos sucessivos maus resultados e promoveu as mudanças necessárias.
Assim, a tripulação passou a contar com um director-geral, um assessor, dois
subdirectores-gerais, dois directores de serviço, quatro chefes de divisão e
procederam também à substituição do remador. Acontece que nas provas seguintes
os resultados continuaram a ser péssimos e sentiu-se a necessidade de se
tomarem, finalmente, medidas drásticas. A toda a tripulação foi atribuído um
aumento de vencimento e um prémio de produtividade à excepção do remador que
foi despedido com justa causa após um processo que evidenciou inaptidão
funcional.
Serve esta história para comentar a notícia do Público
sobre a anunciada redução das chefias na administração local, que só a crise e
a imposição do governo no exterior, a chamada troika, vieram desencadear. Há
alguns meses, um trabalho sobre esta matéria publicado pelo I referia que, em
termos genéricos, a administração pública apresenta um rácio de 1 dirigente
para 45 trabalhadores, existindo serviços em que a relação é de um para cinco. Na
proposta do Governo existem autarquias que terão de prescindir de mais de
metade dos actuais lugares de chefia. No entanto, no que respeita à
administração local, apesar das boas práticas que também existem, todos reconhecemos,
que a proliferação de “chefes” se constitui como uma forma de gerir interesses
que não só a qualidade dos serviços prestados e o bem-estar dos munícipes, de
todos os munícipes, é claro.
Por outro lado e como sabem, continua na agenda a
flexibilização do despedimento dos “remadores”. A taxa de desemprego dos “remadores”
continua a subir e estima-se que assim se mantenha.
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