sexta-feira, 18 de maio de 2012

MEDIMOS O QUE VALORIZAMOS, OU VALORIZAMOS O QUE MEDIMOS?

Foi hoje apresentada a avaliação do Programa Novas Oportunidades solicitada pelo MEC a uma equipa do Instituto Superior Técnico.
Em síntese, a dimensão reconhecimento, validação e certificação de competências parece ter um baixíssimo impacto na empregabilidade e um efeito quase nulo nas remunerações dos participantes. Por outro lado, as modalidades com maior componente formativa, Educação e Formação de Adultos apresentam efeitos consideráveis, aumento da empregabilidade de 14 % nos homens e 2 % nas mulheres. Formação de natureza mais curta têm impacto mais baixo, 3 % nos homens e 1 % nas mulheres. No que respeita à remuneração a frequência de um curso EFA parece promover um acréscimo de 4 %. Curiosamente, num programa que se destina nos seus fundamentos a promover qualificação, a avaliação do Programa agora realizada, não contempla a qualidade das competências (qualificações adquiridas). Um bom exemplo, mais um, da manha da PEC – Política Educativa em Curso, aliás, já em voga há muitos anos.
O Público ouviu Luís Capucha, antigo responsável pelo Programa Novas Oportunidades, que contesta a equipa, o modelo e os conteúdos da avaliação realizada pelo IST.
Esta discussão recorda-me uma afirmação notável do professor Gert Biesta da Universidade de Stirling que, a propósito da medida em educação, se questiona, “nós medimos o que valorizamos ou valorizamos o que medimos?”
Se bem estão recordados já tinham sido realizadas avaliações externas ao Programa Novas Oportunidades, sob a responsabilidade, uma delas, do Eng. Roberto Carneiro. Recupero excerto de um texto antigo sobre essas avaliações.
É óbvio que as pessoas envolvidas terão de expressar uma opinião genericamente positiva, acedem a diplomas que lhes certificam competências, acedem a algumas experiências e competências, a equipamentos informáticos, etc. Parece-me aliás, estranho que apenas um terço revelem que o Programa teve pelo menos um aspecto positivo. É interessante que dos 32% que referem um aspecto positivo, apenas 27% refiram o alargamento de competências. Numa outra avaliação referia-se que os participantes aumentaram a sua auto-estima e se sentiam mais envolvidos na escolaridade dos seus filhos. Estas avaliações não referiram se o Programa se repercutia na empregabilidade, na qualificação ou na qualidade do emprego”.
A gestão do Professor Capucha assentou, como muitas vezes, referi na promoção despudorada do equívoco entre certificação e qualificação e a recuperação estatística dos diplomados com o 9º e com o 12º ano foi notável.
A actual Secretária de Estado do Ensino Básico, com base na avaliação agora conhecida, afirma como prioridade o Ensino Recorrente, entretanto quase desaparecido, providenciado por uma rede selecionada de escolas e no redimensionamento da rede de Centro de Novas Oportunidades que passam, num processo de restyling, a Centros para a Qualificação e o Ensino Profissional.
Milhões de euros depois, centenas de profissionais despedidos depois, algumas boas práticas e experiências depois, vai restar o quê? A deriva política da educação em Portugal nas últimas décadas.

4 comentários:

Anónimo disse...

Sinceramente não sei o que mediram. Maior autoestima nas pessoas que completaram esta modalidade de estudos, sim, claramente!
A dificuldade em compreender está no que é que aprenderam as pessoas, com a "matéria" apresentada e os "profundos conhecimentos" adquiridos, posteriormente.
Algo de muito confuso,se passava aqui. Parte das pessoas mandaram fazer os trabalhos, ou desistiam. Além de se perceber qual a necessidade da máquina de lavar roupa, o telemóvel, o ferro de engomar se enquadravam na bibliografia de cada um.
Mas foi lindo!! Nas escolas, fizemos e ajudamos muitas assistentes operacionais, para os entregar. Com um problema que se ia colocando...nenhum de nós, professores, tinha aprendido algo de semelhante na escola ou feito uma coisa deste âmbito que para nada serviu. Ou por outra, serviu sim1 Enganados mas com maior autoestima...por uns dias.
Sei o que digo ! Auxiliares da escola precisaram de nós. Muitas vezes choravam sempre na base da desistência...
Porem, as formadoras eram muito bem remuneradas, tal como, todas as equipas participantes espalhadas por este país.
Outra "história" no meio de muitas...
E ficamos assim..."MEDIMOS O QUE VALORIZAMOS, OU VALORIZAMOS O QUE MEDIMOS?"...

Anónimo disse...

Corrijo; Além de "não" se perceber qual a necessidade da máquina de lavar roupa, o telemóvel, o ferro de engomar se enquadravam na biografia de cada um.

Anónimo disse...

Agradeço a sua correcção e também pela sua atenta leitura.

Obrigado.

Unknown disse...

Estou chocada com o facto de as modalidades com maior componente formativa, Educação e Formação de Adultos apresentam efeitos tão diferentes no aumento da empregabilidade entre os géneros: 14 % nos homens e 2 % nas mulheres.

Isto choca-me profundamente.