No Público retoma-se a abordagem a experiências
de ajuda a alunos, fora da escola, por pais ou outras pessoas da comunidade,
incluindo jovens, e em regime de voluntariado. Já tinha sido divulgada a iniciativa
da Associação de Pais do Externato de Penafirme em Torres Vedras, que através
de um grupo de pais voluntários providencia ajuda de natureza escolar a alunos
que dela possa necessitar e cujos pais sintam dificuldade em proceder a esses
apoios ou em aceder às "explicações", um nicho de mercado nesta
altura em alta.
Este grupo de pais desloca-se a instituições da
zona, onde trabalham com os miúdos incluindo, para além dos aspectos escolares,
dimensões relativas à formação pessoal e social como comportamentos e
solidariedade.
Esta iniciativa, "Estudar dá futuro" que
não é inédita, outras estruturas de pais e de outras pessoas têm desenvolvido
actividades da mesma natureza. Na peça de hoje do jornal, citam-se exemplos em
Santa Maria da Feira e Lisboa. Estas iniciativas suscitam alguma reflexão que
partilho convosco.
Em primeiro lugar, creio que é de sublinhar o
empenho de alguns pais e de outras pessoas das comunidades que, em regime de
voluntariado, se disponibilizam a ajudar nas aprendizagens escolares outras
crianças, alargando a sua acção educativa a outros aspectos.
No entanto, do meu ponto de vista, é importante
não perder de vista que os pais, ou outros elementos não devem substituir os
professores, nem os professores devem esperar, ou desejar, que os pais os
substituam. É fundamental que a escola não “descanse” com a ideia de que os
miúdos terão ajudas em casa.
As aprendizagens escolares são da competência da
escola e a sua aquisição pelos alunos não deve estar dependente da capacidade
pedagógica ou didáctica dos pais, os dos alunos ou de outros pais ou mesmo de “explicadores”.
Muitos, não terão níveis de escolaridade que lhes permitam acompanhar a vida
escolar o que contribui para manter ou aumentar desigualdades entre os miúdos.
A acção dos pais e de outras pessoas pode ter um
papel positivo noutras crianças e na ajuda a outros pais, em dimensões
contributivas para um melhor desenvolvimento dos miúdos e apoio à educação
familiar, mas a sua prestação como explicadores deve, creio, ser vista com
alguma precaução.
Dir-se-á que o recurso a explicadores é prática
comum, muitas famílias não terão capacidade económica para o suportar,
sobretudo num tempo de grandes dificuldades e, por isso, este tipo de ajuda,
gratuita, vem dar um preciosa ajuda. Entendo, mas sustento que a escola deve
evitar colocar as aprendizagens dos alunos dependentes do "trabalho
docente" feito em casa, seja por quem for.
Finalmente, volto a sublinhar que acho
interessante o empenho de pais e de outras pessoas em providenciar ajuda a miúdos
que não os seus, relembrando o velho provérbio africano, "para fazer uma
casa chegam quatro homens, para educar uma criança é preciso uma aldeia".
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