No Público de hoje aparece um trabalho importante sobre uma
realidade a que habitualmente prestamos pouca atenção, o universo de trabalho
das empregadas domésticas, das “criadas”, das “mulheres-a-dias”, das “criadas de
servir”.
Este universo, dada a privacidade do seu funcionamento, está
particularmente exposto a situações de abuso e desrespeito por normas legais.
Acresce a esta situação, já ameaçadora, o facto de boa parte das pessoas que
exercem a função ser de origem estrangeira, alguns em situação ilegal, o que
mais fragiliza as relações estabelecidas entre empregadores e empregados.
Na peça, relatam-se abusos de diferente natureza dos quais,
por várias razões, poucas vezes decorre uma queixa formal, aliás com prova nem
sempre fácil face ao desequilíbrio de posições e ao funcionamento do nosso
sistema judicial.
No entanto, os tempos que vão correndo e os ventos fortes que
sopram para abanar as relações laborais, vão no sentido de que as pessoas,
muitas pessoas, se vão tornando, de uma forma ou de outra, pessoas a dias, ou
seja, gente descartável, que serve quando é preciso e se deita fora logo que o
mercado o exija.
Os ventos fortes sopram no sentido de que face aos números
elevadíssimos do desemprego se proponham salários miseráveis e condições
laborais sem qualidade pois “ainda tens sorte em ter algum trabalho” e a
pressão das dificuldades obriga a que tudo se aceite.
Os ventos fortes sopram no sentido de arrastarem a dignidade,
impondo a mão estendida e a aceitação submissa do inaceitável, a troco de uns
euros que permitam a sobrevivência.
De mansinho, vamos a caminho do estatuto de pessoas a dias,
agradecendo, resignadamente, cada dia que passa.
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