Já terá sido identificado e detido o adolescente
que, através de um blogue e do Facebook, expressou a intenção de provocar um
tiroteio na escola que frequenta o que, naturalmente, gerou algum receio e
inquietação. De acordo com uma notícia televisiva, a situação
poderá até ter sido uma brincadeira "infeliz", por assim dizer.
No entanto, dados os sucessivos episódios desta
natureza sempre com consequências devastadoras, lembremo-nos do que ocorreu na
Noruega, ou ainda em Inglaterra, nos Estados Unidos, em França ou na Finlândia ainda
ontem, parece-me, como já tenho afirmado, fundamental que estejamos atentos e
inquietos.
Esta atenção e inquietação deve dirigir-se e
tentar perceber um processo que designo como "incubação do mal", que
se instala nas pessoas, muitas vezes logo na adolescência, a partir de
situações de mal-estar que podem passar relativamente despercebidas mas que,
devagarinho, insidiosamente, começam interiormente a ganhar contornos que
identificam os alvos, por vezes difusos, sentidos com os causadores desse
mal-estar.
A fase seguinte pode passar por duas vias, uma
mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva possa drenar esse
mal estar, nessa altura já ódio e agressividade, ou, uma outra via, que aumenta
exponencialmente o risco de um pico que pode ser um tiroteio num liceu, a bomba
meticulosamente e obsessivamente preparada ou o ataque a uma concentração de
jovens de um partido que representa o "mal" ou a vinda para a rua
numa espiral de violência cheia de "adrenalina", em nome de coisa
nenhuma a não ser de um "mal-estar" que destrói valores e gente.
Por mais policiada que seja uma sociedade é
extraordinariamente difícil prevenir processos desta natureza em que o mal se
vai incubando e em que as ferramentas de acção são acessíveis. Provavelmente, a
questão não é abdicar da abertura e da tolerância que caracteriza a nossa
sociedade elevando o policiamento das comunidades a níveis asfixiantes.
A abordagem a esta situação, melhor, a este tipo
de situações, a iniciativa individual de natureza violenta ou terrorista, ou os
movimentos grupais descontrolados e reactivos, passará sobretudo por uma
permanente atenção às pessoas, ao seu bem-estar, tentando detectar, tanto
quanto possível, sinais que indiciem o risco de enveredar por um caminho que se
percebe como começa, mas nunca se sabe como acaba.
Na Noruega, na Inglaterra, nos Estados Unidos, em
França ou em Portugal.
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