Retomo uma matéria que recorrentemente é objecto
de reflexão aqui no Atenta Inquietude, as necessidades especiais de crianças e
adolescentes e a forma como essas necessidades são, ou não são, acolhidas, bem
acolhidas, no nosso sistema educativo.
Em primeiro lugar, uma chamada de atenção para um
trabalho do Público com o Professor Peter Wilson, psicoterapeuta inglês que
está em Portugal para participar nas Jornadas da Casa da Praia, uma das
melhores heranças do Mestre João dos Santos, figura a quem o país educativo, mas não só,
deve uma homenagem e que se estivesse entre nós se sentiria profundamente
inquieto.
Peter Wilson refere a necessidade de que nas
escolas existam apoios aos professores, às famílias e às crianças com
dificuldades emocionais, a única forma, entende, apoiado na sua experiência, de
minimizar e ajudar neste tipo de problemas que, não sendo acautelados, têm
quase sempre efeitos devastadores em termos pessoais e sociais. Segundo Peter
Wilson, os estudos em Inglaterra sugerem a existência de três crianças com
problemas do foro emocional em cada sala de aula pelo que o apoio é muito mais
eficaz e económico prestado na escola a alunos, famílias e professores. Este entendimento
é partilhado, creio, pela generalidade dos profissionais e famílias, também em
Portugal.
Ainda no contexto dos problemas colocados por
algumas crianças e adolescentes, no dia 10, numa audição no Parlamento sobre educação especial, a Inspecção-Geral da Educação defendeu a necessidade de que os
educadores e professores do ensino regular tivessem alguma formação no âmbito
das necessidades especiais de forma a melhor acolher as dificuldades das
crianças. A Inspecção-geral referiu ainda a ausência de Serviços de Psicologia
e Orientação, previstos na lei, e a dispersão excessiva por várias escolas dos
poucos técnicos que existem. Estas considerações, entre outras, não são novas, já
constavam num relatório da Inspecção-Geral da Educação sobre a área designada
como Ensino Especial e centrada no ano 2010/2011 em que se refere a falta de
formação específica para a resposta às necessidades dos miúdos com necessidades
especiais, falta de técnicos, designadamente psicólogos, e indefinição ou
ausência de estratégias relativas à educação deste grupo de alunos. É, no
mínimo, curioso considerar esta avaliação e analisar a medida de que os alunos
com “limitações cognitivas” realizam exames iguais aos dos seus colegas, MEC “dixit”.
As crianças com necessidades educativas
especiais, as suas famílias, os professores e técnicos, especializados ou do
ensino regular sabem, sobretudo sentem, um conjunto enorme de dificuldades
para, no fundo, garantir não mais do que algo básico e garantido
constitucionalmente, o direito à educação e tanto quanto possível, junto das
crianças da mesma faixa etária. É assim que as comunidades estão organizadas,
não representa nada de extraordinário e muito menos um privilégio.
Com base num incompetente normativo que carece de
urgente revisão, o lamentável Decreto-Lei 3/2008, temos milhares de crianças
com necessidades de apoio educativo e que estão abandonadas e
"entregadas" em vez de integradas, pese o empenho de muitos
profissionais dedicados. Este cenário acontece muito por força do que o
Relatório da IGE aponta, falta de formação, de recursos e de estratégias
concertadas e consistentes de acolhimento das diferenças dos miúdos diferentes,
mais diferentes.
Esta legislação inibe, em muitas circunstâncias,
a prestação de apoios a crianças que deles necessitam, quer por via da gestão
de recursos impondo taxas de prevalência de problemas fixadas
administrativamente e sem qualquer correspondência com a realidade quer pelos
modelos de organização de respostas que impõe. Aliás, a prevalência dos
problemas emocionais referida por Peter Wilson para a Inglaterra, não tem
rigorosamente a ver com os indicadores irresponsáveis e ignorantes utilizados
pelo MEC para a determinação e gestão dos recursos.
Como é evidente, em situações
de dificuldades económicas, as minorias, são sempre mais vulneráveis, falta-lhes
voz. Como sempre afirmo, os níveis de desenvolvimento das comunidades também se
aferem pela forma como cuidam das minorias.
Sem comentários:
Enviar um comentário