No Público divulga-se o último Relatório da Health
Consumer Powerhouse, organização sueca que analisa o desempenho dos serviço de
saúde em diferentes países. Comparativamente a 2009, Portugal baixou a sua
qualidade, sublinhando o relatório aos tempos de espera excessivos, o abaixamento
das comparticipações para medicamentos, a dificuldade acesso a fármacos mais
recentes, acentuando globalmente uma apreciação de "estagnação".
Esta avaliação, por mais que nos incomode, não
pode surpreender-nos. Há alguns meses, também no Público, descrevia-se um retrato
devastador do estado dos serviços de saúde na região alentejana, interior e
litoral. Em síntese, gente sem dinheiro ou meios para se deslocar a consultas,
mesmo de urgência, troca de produtos básicos por medicamentos, carências de toda
a ordem, recursos humanos e outros, nos centros de saúde, o que compõe um
quadro assustador e, provavelmente extensível a outras zonas do país.
A preocupação com a doença, sobretudo numa
população envelhecida, está permanentemente na cabeça das pessoas e,
naturalmente, não estou a falar de hipocondria. Se a este peso acrescer o facto
de que não terem um médico de família acessível, que conheçam, que as conheça e
com quem, desejavelmente, mantêm uma relação de confiança as pessoas sentem-se
fortemente vulneráveis e impotentes. Acresce que muitas destas pessoas não
terão grandes possibilidades de recurso a serviços privados.
Ainda não há muito tempo o Director da Escola Nacional
de Saúde Pública referia o risco de se verificarem situações de ausência de
consulta ou tratamento por falta de condições financeiras, quer no que respeita
aos serviços, quer por dificuldades das próprias pessoas. Aliás, os indicadores
já disponíveis têm vindo a evidenciar um abaixamento significativo das
consultas e de tratamentos providenciados devido às dificuldades económicas de
muitas pessoas conjugas com o aumento dos custos dos serviços e das taxas
moderadoras como uma peça televisiva de há dias evidenciava de forma dramática.
Por outro lado, quando tanto se fala no estado
social, nos limites desse estado, a privatização de serviços, por exemplo na
saúde, é fundamental perceber e entender que a comunidade tem sempre a
responsabilidade ética de garantir a acessibilidade de toda a gente aos
cuidados básicos de saúde. Os tempos que atravessamos criando obstáculos ao
acesso aos serviços de saúde são ameaçadores. Como afirma Michael Marmot, que
recentemente esteve em Portugal, todas as políticas podem, ou devem, ser
avaliadas pelos seus impactos na saúde.
Talvez a ideia do "custe o que custar"
seja de repensar, pela nossa saúde.
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