quarta-feira, 16 de maio de 2012

PELA NOSSA SAÚDE

No Público divulga-se o último Relatório da Health Consumer Powerhouse, organização sueca que analisa o desempenho dos serviço de saúde em diferentes países. Comparativamente a 2009, Portugal baixou a sua qualidade, sublinhando o relatório aos tempos de espera excessivos, o abaixamento das comparticipações para medicamentos, a dificuldade acesso a fármacos mais recentes, acentuando globalmente uma apreciação de "estagnação".
Esta avaliação, por mais que nos incomode, não pode surpreender-nos. Há alguns meses, também no Público, descrevia-se um retrato devastador do estado dos serviços de saúde na região alentejana, interior e litoral. Em síntese, gente sem dinheiro ou meios para se deslocar a consultas, mesmo de urgência, troca de produtos básicos por medicamentos, carências de toda a ordem, recursos humanos e outros, nos centros de saúde, o que compõe um quadro assustador e, provavelmente extensível a outras zonas do país.
A preocupação com a doença, sobretudo numa população envelhecida, está permanentemente na cabeça das pessoas e, naturalmente, não estou a falar de hipocondria. Se a este peso acrescer o facto de que não terem um médico de família acessível, que conheçam, que as conheça e com quem, desejavelmente, mantêm uma relação de confiança as pessoas sentem-se fortemente vulneráveis e impotentes. Acresce que muitas destas pessoas não terão grandes possibilidades de recurso a serviços privados.
Ainda não há muito tempo o Director da Escola Nacional de Saúde Pública referia o risco de se verificarem situações de ausência de consulta ou tratamento por falta de condições financeiras, quer no que respeita aos serviços, quer por dificuldades das próprias pessoas. Aliás, os indicadores já disponíveis têm vindo a evidenciar um abaixamento significativo das consultas e de tratamentos providenciados devido às dificuldades económicas de muitas pessoas conjugas com o aumento dos custos dos serviços e das taxas moderadoras como uma peça televisiva de há dias evidenciava de forma dramática.
Por outro lado, quando tanto se fala no estado social, nos limites desse estado, a privatização de serviços, por exemplo na saúde, é fundamental perceber e entender que a comunidade tem sempre a responsabilidade ética de garantir a acessibilidade de toda a gente aos cuidados básicos de saúde. Os tempos que atravessamos criando obstáculos ao acesso aos serviços de saúde são ameaçadores. Como afirma Michael Marmot, que recentemente esteve em Portugal, todas as políticas podem, ou devem, ser avaliadas pelos seus impactos na saúde.
Talvez a ideia do "custe o que custar" seja de repensar, pela nossa saúde.

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