A propósito do desaparecimento de Maddie, a
menina inglesa, no Algarve, agora reentrado na agenda, o Público retoma o caso
das pessoas desaparecidas, designadamente de crianças. Ainda há pouco tempo se
desenrolou o julgamento relativo ao trágico desaparecimento do Rui Pedro ocorrido há já
13 anos.
Não sendo a primeira vez que o faço, retomo
algumas notas dirigidas às experiências pelas quais, lamentavelmente, muitos
miúdos passam ou podem estar em risco de passar.
Tem sido feito um esforço nacional e
internacional no sentido de aumentar a eficácia na abordagem a situações desta
natureza bem como, a maior atenção aos factores de risco de que a título de
exemplo se cita a net e as redes sociais que não podendo, obviamente, ser
diabolizadas, apresentam alguns riscos que não devem ser negligenciados.
Embora se saiba, é também referido na peça do
jornal, que muitos dos casos reportados de desaparecimento de crianças e
adolescentes acabem por ter, por assim dizer, um final feliz, o desaparecimento
é temporário, reactivo a incidentes ou a resultados escolares, alguns
transformam-se em tragédias sem fim como o caso do Rui Pedro desaparecido há 13
anos.
Uma situação desta natureza é uma tragédia
absolutamente devastadora numa família. Nós pais, não estamos "programados"
para sobreviver aos nossos filhos, é quase "contra-natura". Se a este
cenário acresce a ausência física de um corpo que, por um lado, testemunhe a
tragédia da morte mas, simultaneamente, permita o desenvolvimento de um
processo de luto, a elaboração da perda como referem os especialistas, que,
tanto quanto possível, sustente alguma reparação e equilíbrio psicológico e
afectivo na vida familiar, a situação é de uma violência inimaginável.
No entanto e neste contexto, creio que vale a
pena não esquecer a existência de muitas crianças que estão desaparecidas mas à
vista, situações que por desatenção e menos carga dramática passam mais
despercebidas.
Na verdade, existem muitíssimas crianças e jovens
que vivem à beira de pais e professores para os quais passam completamente
despercebidas, são as que eu chamo de crianças transparentes, olhamos para
elas, através delas, como se não existissem. Não estando desaparecidas, estão
abandonadas. Algumas delas não possuem ferramentas interiores para lidar com
tal abandono e desaparecem, mantendo-se à nossa vista, no primeiro buraco que a
vida lhes proporcionar, um ecrã, outros companheiros tão abandonados quanto
eles, o consumo de algo que lhes faça companhia ou adrenalina de quem nada tem
para perder.
Em boa parte das situações, por estes ninguém
procura.
E eles perdem-se de vez.
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