Aqui há uns tempos, uma jovem estagiária contava uma
situação curiosa. Numa sala de aula com gaiatos pequenos, 1º ciclo, às tantas
no meio de alguma algazarra um miúdo conseguiu fazer ouvir a sua voz para dizer
à Professora “Mas a Professora grita mais alto que nós”. Na verdade, a
Professora tinha acabado de com um grito bem estridente, ter tentado impor
silêncio aos miúdos o que, aliás, era um padrão de actuação comum. A Professora ficou um pouco perplexa e sem jeito saiu-se com umas palavras de justificação
que não apagaram o desconforto.
Este episódio acaba por retratar de alguma forma os modelos
de comunicação que em muitas circunstâncias predominam entre nós.
Se bem estivermos atentos, em variadíssimas situações ter
voz depende do volume de voz, ouve-se quem grita mais alto, sobre o ruído de
fundo e o som de outras vozes que se elevam para que sejam ouvidas. Este mundo
de gritos passa-se em casa, passa-se na escola, passa-se no mundo profissional,
nos debates (!) de ideias, etc.
Vai acontecendo que se não gritarmos não nos ouvem e, tantas
vezes, instala-se uma cacofonia ensurdecedora, rigorosamente ineficaz e
cansativa.
Neste universo, uma nota mais particular sobre os miúdos de
quem tanta gente se queixa de que gritam em demasia.
Será que os ouvimos se eles falarem mais baixo?
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