Era uma vez um homem chamado Canto. A sua vida
foi um encadeado de cantos e desencantos. Uma família grande, reservou-lhe um canto à mesa e
outro canto para dormir. A escola, curta, foi passada ao canto. No tempo de
brincar, ficava só, ao canto, desencantado.
Por hábito, trabalhava, claro, no canto da
oficina.
Sempre pelos cantos, um olhar de canto trouxe-lhe
na volta um sorriso que lhe pareceu um encanto, e, atrás do sorriso, a mulher
que, pela companhia, lhe iluminou o canto, encantadamente, por uma vez.
Os filhos preencheram-lhe os cantos à casa e a
velhice deixou-o só, de novo, a passear pelos cantos os seus desencantos.
O Sr. Canto repousa agora, discretamente, num
canto do cemitério, como sempre.
2 comentários:
Oh professor, é uma história triste como tantas por este mundo fora, só tem um espaço feliz, tão só....., mas não seremos todos como o Senhor Canto? Até o Dr. José do Canto, açoriano, homem de personalidade personalissima, intelectual avançado para a sua época. Homem amadisimo pela familia e pelos amigos.Homem de atos de coragem e empreendimento excecionais para aquela época, morreu só e amargurado. Teve encantos em determinada altura da sua vida misturada com enormes desencantos. Foi feliz porque amou Maria Gulhermina como ninguém e também amargurado exatamente por isso. Sonhou o melhor para os filhos e até isso resultou em desencantos gigantescos........ por isso e outro tanto,professor, temos de tentar ser felizes com quem nos ama, enquanto visitamos esta vida e subimos esta caminhada que a morte nos emprestou. Se, não formos felizes, pelo menos tentemos fazer os que nos rodeiam felizes. A minha avó dizia, e era uma sábia, se puderes fazer otimp, não faças bom....é verdade, um abraço Professor.
Se ainda não leu "OS CANTOS" de Filomena Mónica, convido-o a ler esta história. Desde o tempo do Liceu que aprendi a amar este homem JOSÉ DO CANTO. E, agora, com o livro da F.M. fiquei a saber ainda mais sobre o HOMEM.
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