quinta-feira, 17 de maio de 2012

UM ANO DE VIDAS E VOLTAS TROIKADAS

A imprensa assinala hoje o cumprimento do primeiro ano em que as nossas vidas e voltas foram troikadas. Não sou dado a especulações e as certezas dos economistas já não me convencem, pelo que não discorro sobre o que seria a nossa narrativa sem o negócio imposto pela troika, conheço a nossa vida actual.
O desemprego parece, aqui estabelece-se consenso, a mais devastadora consequência da crise. A taxa de desemprego ronda os 16%, boa parte de longa duração, entre os jovens e segundo o INE é de 36.2 % mas o JN avança com um nível de desemprego real de 44.7% para os mais novos. Verificou-se uma subida exponencial do número de casais em que ambos estão desempregados e nestes 12 meses perderam-se mais de 200 000 empregos. À taxa real de desemprego devem juntar-se também umas centenas de milhar de pessoas que já desistiram de procurar emprego, não constando das estatísticas. O número total de inactivos deve rondar segundo as estimativas um milhão e  trezentas mil pessoas. Um quadro muito, muito, negro.
Sabe-se também que é crescente o número de desempregados que não auferem subsídio de desemprego e que se estima em perto de meio milhão. Este número estará em crescimento, pois começa a esgotar-se o período em que se usufrui de subsídio, entretanto encurtado, envolvendo as pessoas que caíram no desemprego a partir de 2009, o ano em que os aspectos mais gravosos da crise nos começaram a atingir. Acresce que os valores médios de subsídio de desemprego também estão a baixar.
Esta quadro impressionante levanta uma terrível e angustiante questão. Os milhares, muitos, de pessoas envolvidas vão (sobre)viver de quê?
Sendo de esperar um período recessivo e, portanto, sem crescimento, torna-se impossível criar a riqueza necessária e redistribuí-la de forma socialmente mais justa para minimizar esta tragédia.
É certo que em Portugal a chamada economia paralela corresponde a cerca de 24% do PIB e muita gente e muitas actividades estão envolvidas neste universo, de qualquer forma o potencial impacto social destes números é, no mínimo, inquietante, o JN refere uma "bomba social".
Afirmo com frequência que uma das consequências menos quantificável das dificuldades económicas, sobretudo do desemprego, em particular o de longa duração e de situações em que o tempo obriga a perder o subsídio, é o roubo da dignidade às pessoas envolvidas. Sabemos que se verifica oportunismo e fraude no acesso aos apoios sociais, mas a esmagadora maioria das pessoas sentem a sua dignidade ameaçada quando está em causa a sobrevivência a que só se acede pela “mão estendida” que envergonha, exactamente por uma questão de dignidade roubada.
A questão da pobreza é um terreno que se presta a discursos fáceis, de natureza populista e ou demagógica, sem dúvida. Mas também não tenho dúvidas de que os problemas gravíssimos de pobreza que perto de dois milhões de portugueses conhecem, exigem uma recentração de prioridades e políticas que não se vislumbra. A obsessiva austeridade do "custe o que custar" está a produzir este cenário. De forma quase insultuosa e obscena alguns governantes insistem, no "não está bem, mude-se, pire-se, emigre" e até já ouvimos referências a “abandonar a sua zona de conforto". Zona de conforto?! Sem presente e sem futuro, zona de conforto?! Tenham tento e respeito pela dignidade, coisa que está em extinção.
A pobreza e a exclusão deveriam envergonhar-nos a todos, a começar por quem lidera, representam o maior falhanço das sociedades actuais.
A liderança que transforma é uma liderança com responsabilidade social e com sentido ético, dimensão em desuso nos tempos que correm.

1 comentário:

anónimo paz disse...

Vou chover no molhado...

1º Subsídios a agricultores para deixarem os campos.

2º Subsídios a pescadores para venderem as embarcações.

3º Elevados vencimentos nas classes superiores da administração pública.

4º O desinteresse do fisco em cobrar nas grandes riquezas (banca,especulação nos grandes negócios).

5º Forças Armadas dispendiosas e caducas.

6º Obras megalómanas

7º Auto-estradas, estádios de futebol, centenas de instituições público-privadas, fundações e institutos de duvidosa utilidade, financiamento a empresas que os reverteram em seu benefício, etc., etc.,etc..

Para culminar...Partidos que funcionam tipo agências de emprego que admitem os mais corruptos e incompetentes.Que vão para a política com a única finalidade: ENRIQUECER!

Não é para admirar que estejamos com uma crise desta dimensão. Mas não atinge os verdadeiros culpados...

Tudo isto e muito mais é obra de três partidos que continuam a proclamar que trabalham para o bem do povo.

De indignados, em breve passaremos quase todos a ESFOMEADOS.


saudações