Como os seguidores mais atentos certamente
registam, existem alguns temas que recorrentemente abordo no Atenta Inquietude.
De entre essas temáticas destacam-se as matérias que envolvem o bem-estar e a qualidade
de vida das pessoas, designadamente das pessoas mais pequenas, crianças e
adolescentes.
Neste contexto, a propósito da divulgação do
Relatório Health Behaviour in School-aged Children da OMS e dos dados relativos
a Portugal, retomo uma questão verdadeiramente preocupante, a obesidade infantil e juvenil.
Portugal é um dos países envolvidos no estudo, 39
da Europa e América do Norte, que apresenta mais excesso de peso entre a
população mais jovem, 5º lugar aos 11 anos, 4º lugar aos 13 e 6º aos 15 anos.
Na verdade, a obesidade infantil afecta um número
muito significativo de crianças e adolescentes, assenta fundamentalmente nos
estilos de vida dos mais novos de que releva o sedentarismo excessivo e a
péssima qualidade genérica ao nível dos hábitos alimentares. É de registar que
as escolas têm vindo a fazer um esforço no sentido de aumentar a qualidade
alimentar da oferta, o que não é acompanhado pelas famílias, ilustrado pela
desproporcionalidade do consumo de água e de refrigerantes no contexto
familiar.
Parece ainda de sublinhar que estudos realizados
em Portugal mostram que a obesidade infantil é já um problema de saúde pública,
implicando, por exemplo, o disparar de casos de diabete tipo II em crianças. Há
algum tempo relatei aqui no Atenta Inquietude a cena de um extremoso pai que,
ao meu lado, proporcionava a uma criancinha com 8 ou 9 anos um pequeno almoço
composto de três salgados e uma lata de cola. Curiosamente, esse texto
despertou algumas reacções vindas, creio, de algumas pessoas que entendem que
qualquer discurso ou iniciativa no âmbito dos comportamentos configuram uma
intromissão e desrespeito dos direitos individuais. Esta iniciativa no quadro
parlamentar pode, por isso, despertar alguma discussão. No entanto, insisto na
necessidade de iniciativas e discursos que promovam comportamentos mais
saudáveis sobretudo quando se trata de crianças que são obviamente mais
vulneráveis e desinformadas.
Dados de há meses apresentados no XIV Congresso
Português de Obesidade, referem, sem novidade pois vai ao encontro de outros
resultados, que 22.6 % das crianças dos 10 aos 18 anos estão em situação de
pré-obesidade e 7.8 % já são obesos.
Sabe-se também que em adultos e sem surpresa os
números pioram, 50% dos homens e 30% das mulheres estarão em situação de
pré-obesidade ou obesidade.
As consequências potenciais deste quadro em
termos de saúde e qualidade de vida são muito significativas, quer em termos
individuais, quer em termos sociais. Assim, e como já tenho referido, um
problema de saúde pública desta dimensão e impacto justifica a definição de
programas de prevenção, educação e remediação que o combatam.
Provavelmente, teremos algumas reacções contra o
chamado “fundamentalismo nos hábitos individuais” mas creio que são também de
ponderar as implicações colectivas e sociais do problema.
Além de que todos sabemos que o excesso de peso e
os riscos associados não serão, para a esmagadora maioria das miúdos e graúdos
nessa situação, uma escolha individual, é algo de que não gostam e sofrem, de
diferentes formas, com isso.
Sem comentários:
Enviar um comentário