"Economia paralela cresce para 26,81% do PIB"
O presidente do Observatório de
Economia e Gestão de Fraude da Faculdade de Economia do Porto, Carlos Pimenta,
afirmava em finais de 2012 que com a política de austeridade, sobretudo o
brutal aumento da carga fiscal, a degradação da classe média e o agravamento
das desigualdades sociais, iriam aumentar as fraudes e crescer o volume da
economia paralela.
De facto, segundo dados hoje conhecidos
disponibilizados pela mesma entidade, a economia não registada ou paralela
continua a aumentar, representando actualmente em Portugal cerca de 26.81% do
PIB, 45900 milhões de euros, 60% do montante pedido à Troika, o equivalente a
seis vezes o orçamento do Ministério da Saúde. É obra.
Este outro lado da economia que
envolve desde a fuga de capitais para paraísos "off-shore", à
habilidade individual da ausência de recibo no dia-a-dia, está completamente
enraizado, é apenas uma questão de escala e as dificuldades resultantes da
crise e dos aumentos de impostos potenciarão, muito provavelmente, esse lado
paralelo da vida económica. Aliás, creio que dados os cortes nos apoios
sociais, relembro que menos de metade dos desempregados acedem a subsídio de
desemprego, a economia paralela se tornou justamente a base de sustentação e
sobrevivência para muita gente além de que minimiza o risco de turbulência
social.
Este funcionamento quase que faz
parte da nossa cultura, o "dar um jeitinho", "fazer uma
atençãozinha", arranjar “um esquema” ou "dar um jeito" são parte integrante do quotidiano. Trata-se de um fenómeno, um
comportamento generalizado que varia na escala e com o qual parecemos ter uma relação ambivalente,
uma retórica de condenação, uma pontinha de inveja dos dividendos que se
conseguem e a tentação quotidiana de receber ou providenciar uma
"atençãozinha" ou pedir ou dar um jeito, sempre
"desinteressadamente", é claro.
Por outro lado, o cidadão comum,
nós, sentimos, creio, algo de muito significativo, não acreditamos que exista
verdadeira vontade política de combater algumas das dimensões mais pesadas, por
assim dizer, deste universo.
A teia de interesses que ao longo
de décadas se construiu envolvendo o poder político, a administração pública,
central e autárquica, o poder económico, o poder cultural, a área da justiça e
segurança, parte substantiva da comunicação social e muito do nosso
funcionamento quotidiano, dificulta seriamente um combate eficaz e mudança
cultural nesta matéria. Este combate passará, naturalmente, por meios e
legislação adequada, mas passa sobretudo pela formação cívica que promova uma
outra cidadania.
Certamente que poderíamos viver
sem o “esquema”, mas não era a mesma coisa.
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