sábado, 13 de dezembro de 2014

DA EXCLUSÃO E DA INCLUSÃO

"Pai surdo gera onda de apoio para legendar programas da Disney"

A imprensa de hoje divulga a iniciativa de um Pai que, sendo surdo se viu impossibilitado de acompanhar a filha na assistência a banda desenhada no Canal Disney por falta de legendagem. O Pai, incomodado com a tristeza da miúda, resolveu apresentar a situação na página de Facebook da Disney Portugal, iniciativa que teve um impacto inesperado, obteve o envolvimento de estruturas oficiais e representativas da comunidade surda e a Disney Portugal veio afirmar que tem o assunto em estudo.
Esta história é apenas mais um exemplo da infindável prova de obstáculos em que se transforma a vida das pessoas com deficiência envolvendo a educação, a segurança social, a saúde ou o acesso ao mercado de trabalho.
No caso particular das pessoas surdas, também os exemplos são variados, falta de intérpretes de Língua Gestual Portugesa nas escolas, a limitação no acesso a serviços ou eventos por barreiras de comunicação, apoios insuficientes na área da segurança social ou da saúde, caso dos implantes cocleares, dificuldades acrescidas no acesso ao mercado de trabalho, boa parte dos conteúdos televisivos para crianças ou adultos inacessíveis por falta de legendagem ou de intérprete, etc., etc.
Este Pai encontrou um eco que nem sequer esperava num exemplo do papel positivo que as redes sociais podem ter no ampliar da voz de gente que, habitualmente, não tem voz, As minorias, por exemplo.
Acontece ainda que esta situação pode reforçar algo que tenho vindo a defender insistentemente, os problemas que afectam as minorias são mais facilmente minimizados com o envolvimento da comunidade não directamente ligada ao problema, o sujeito, a família ou os técnicos. Nesta perpectiva, se a iniciativa deste Pai obtiver os apoios dos cidadãos em geral e não apenas dos cidadãos surdos, das suas famílias e dos técnicos ou associações representativas, a probabilidade de promover alterações é bem maior.
Dito de outra maneira, se os problemas que afectam a comunidade surda, por exemplo, forem sentidos como problemas nossos e não de uma minoria sem voz serão mais facilmente acomodados, 
Sendo certo que se o nível de desenvolvimento das comunidades também se afere pela forma como lida com as minorias, é também fundamental que as minorias minimizem uma dimensão de "discursos para dentro" e proactivamente promovam o envolvimento de todos.
Não querendo ser mal interpretado, posso referir que quando sou solicitado a intervir em inicativas no universo das pessoas com necessidades especiais, mais novos ou mais crescidos, e procuro saber quem compõe a assitência verifico sem surpresa que quase sempre apenas estão os próprios sujeitos (quando adultos), familiares, professores, técnicos ou pessoas com funções sociais na área..
Fica tudo mais difícil, precisamos de assumir e agir com o entendimento de que o problema de cada miúdo, de cada pessoa, seja ele qual for, é um problema da comunidade.
Ponto.

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