As aulas do primeiro período no ensino básico e secundário
estão a terminar. Este ano o período foi marcado pelo catastrófico arranque que
deixou muitos milhares de alunos sem aulas bem mais de um mês.
Agora e antes de se entrar mais a fundo no espírito
natalício, realizam-se as reuniões de avaliação e a generalidade dos alunos e famílias
vai começar a dar atenção às notas. Não só às notas necessárias para a
compra dos presentes de Natal, essas serão certamente revistas em baixa, mas
também às notas escolares dos filhos que igualmente influenciam a compra
de presentes, as boas notas são muitas vezes compensadas com
presentes mas, sobretudo, contribuem para comprar futuros.
Alguns miúdos e adolescentes esperarão com serenidade,
apenas com a ponta de ansiedade criada pela expectativa de ver confirmado
o bom andamento do primeiro período. Estes alunos receberão as felicitações da
família pelo trabalho desenvolvido e, muito provavelmente, até verão essas
felicitações e contentamento familiar sublinhados com o reforço dos presentes,
merecem, trabalharam bem, toda a gente dirá.
Alguns outros miúdos esperam com a ansiedade da dúvida, será
que o trabalho e a generosidade dos “setores” chegarão para a positiva, senão a
tudo, pelo menos a quase tudo. É que os pais também tinham prometido “aquela”
prenda se as notas fossem positivas, mesmo que não "boas", não
esperam tanto.
Também existem alguns alunos que já nem a ansiedade pelas
notas conseguem sentir, vão ser más, o que não estranharão e as famílias,
algumas, também não. É hábito. Destes alunos, uns assumirão um discurso e uma
pose de indiferença, precisam dessa pose e desse discurso para mascarar para
fora o que o insucesso dói para dentro. Ninguém com saúde se satisfaz com o
insucesso. As famílias não sabem que fazer e culpam a escola que as culpa a
elas.
Alguns destes alunos receberão as más notas do primeiro período
como uma espécie de “cheque pré-datado” passado pela escola, ou seja, estas
serão também as notas do segundo e do terceiro período. Esta baixa expectativa
é um forte contributo para que se cumpra o emitido no “cheque”, as más notas no
futuro.
No entanto, não tem que ser, não é o destino e não estão
condenados ao insucesso. Era bom ter consciência do processo e recusar esse
fatalismo, apesar do MEC estruturar um sistema que é pouco amigável para alunos
e professores.
Existe ainda um grupo mais pequeno de alunos que, por razões
que eu não consigo compreender, não têm notas, são especiais, dizem, pelo que
sendo alunos e trabalhando nas escolas não vêem, como todos os outros colegas,
traduzida numa nota a sua participação na vida escolar. Será porque estando lá
não participam, ou será que, apesar de participar e não tendo o mesmo
"rendimento" ou sendo avaliados da mesma forma que os seus colegas,
se entende, erradamente, que não se "justifica" uma nota,
curiosamente, em contextos escolares que se afirmam "inclusivos".
Talvez tenhamos ainda que caminhar no sentido melhorar culturas, modelos e
dispositivos de avaliação que acomodem todos os alunos.
Enfim, como em quase tudo na nossa vida, as notas são,
muitas vezes, determinantes.
Boas férias e Bom Natal.
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