“Há falta de formação nas universidades para o que a indústria necessita”
Este entendimento do papel das Universidades como escola profissional para as empresas assenta num equívoco tremendamente perigoso que o actual Governo alimenta, designadamente Passos Coelho, Nuno Crato e Pires de Lima, ao confundir desenvolvimento tecnológico com desenvolvimento científico.
Este equívoco está claramente presente na política de Crato para a ciência e investigação com o esmagamento das Ciências Sociais e das Humanidades ou nos discursos de Pires de Lima quando afirma com preconceito e ignorância que é
preciso que a investigação (maioritariamente desenvolvida enquadrada pelas
universidades) "se traduza em produtos, marcas e serviços que possam fazer
a diferença no mercado e devolver à sociedade o investimento que fizemos". Tal entendimento mostra mais uma vez a ignorância sobre a ciência, o seu desenvolvimento e o papel
fundamental no desenvolvimento das sociedades, eliminando pura e simplesmente
as ciências sociais e das humanidades, evidentemente inúteis por não criarem
"produtos, marcas e serviços".
É evidente que a empregabilidade e a transferência de
conhecimentos para o tecido económico são dimensões a considerar na organização
da oferta formativa mas existe um conjunto vasto e imprescindível de formação universitária
de que não podemos prescindir com o fundamento exclusivo no mercado de emprego.
Podemos dar como exemplo formações na área da filosofia ou nichos de
investigação que são imprescindíveis num tecido universitário e social moderno
e que cumpra o seu papel de construção e divulgação de conhecimento e desenvolvimento em todas as áreas.
As universidades não podem ser o departamento de formação profissional das empresas.
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