"Marcelo, a carta de uma jovem que esteve no parlamento, os deputados e as “jovens avantajadas” nos computadores"
As águas agitaram-se um pouco
mais com uma performance do famoso "entertainer"
político Marcelo Rebelo de Sousa, também conhecido por "o Professor Marcelo". Na sua
actuação mais recente, o Professor Marcelo divulgou uma carta de uma jovem, estudante do
secundário, que numa visita de estudo ao Parlamento observou “Deputados o tempo
todo a verem no Facebook raparigas avantajadas; outros assistirem a vídeos de
quedas, aqueles que se assistem no Facebook e no Youtube para fazerem as
pessoas rirem; uma vez três deles juntaram-se a rir para de qualquer coisa no
computador e um a ver-se a si próprio num vídeo qualquer”.
O Professor Marcelo chamou a
atenção para este péssimo exemplo dos eleitos da nação e recomendou atenção aos
deputados quando observarem "raparigas avantajadas" com visitantes
nas galerias. Há que ter cuidado.
Já se seguiram reacções de alguns
dos digníssimos deputados que, aliás, se compreendem, não é coisa que se diga.
Este episódio é, do meu ponto de
vista, irrelevante, qualquer de nós que utilizamos as tecnologias nos locais de
trabalho visitamos páginas diversas, imprensa, por exemplo, sem que daí
advenham compromissos do profissionalismo ou produtividade.
No entanto, julgo que é no
interior do Parlamento que mais se ameaça a seriedade, a importância e a imagem
que um Parlamento deve preservar num regime democrático saudável e não tem a
ver com o uso agora revelado pela adolescente dos computadores nas sessões.
Assistir a algumas sessões e ao
nível dos debates produzidos é, com frequência, um espectáculo deprimente. Os
interesses dos cidadãos que os deputados representam são trocados pelos
interesses da partidocracia de que os deputados se alimentam.
O recurso frequente à famigerada
figura de "disciplina de voto" partidária é um ataque às consciências
e, mais uma vez, à essência do papel de um deputado, representar os seus
eleitores e não mostrar-se como um "yes
man" que carrega no botão que lhe mandam sem um sobressalto de
consciência ou de sentido ético. Nessas sessões torna-se claro que bastaria uma
reunião da conferência de líderes para conhecer os resultados das votações, um
deputado por partido seria suficiente para representar os resultados
eleitorais. Aliás, a indecorosa narrativa das sucessivas Comissões de
Inquérito sobre as mais diversas matérias que, invariavelmente, concluem pelos
interesses de quem em cada momento governa, são um outro bom exemplo do
descrédito a que genericamente esta gente condena a Assembleia da República.
O número de deputados no
Parlamento transforma uma parte deles, existem evidentemente excepções nos
diferentes grupos, num grupo quase anónimo que de quando em vez, dá uma prova
de vida com uma intervenção encomendada pelo líder parlamentar ou procuram dar
nas vistas através da frequência, volume de decibéis e mau gosto dos apartes
Se bem estão recordados, a propósito de manifestações nas galerias, surgiu há algum tempo a ideia de limitar o acesso dos cidadãos à Assembleia da República, Espero que este "fait divers" não contribua para a recuperar, inibindo um papel de escrutínio e transparência que também me parece importante e isolar, mais, a vida parlamentar da vida do país com consequências negativas para a imagem já degradada do Parlamento e dos deputados.
Se bem estão recordados, a propósito de manifestações nas galerias, surgiu há algum tempo a ideia de limitar o acesso dos cidadãos à Assembleia da República, Espero que este "fait divers" não contribua para a recuperar, inibindo um papel de escrutínio e transparência que também me parece importante e isolar, mais, a vida parlamentar da vida do país com consequências negativas para a imagem já degradada do Parlamento e dos deputados.
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