"Alunos de 10 e 11 anos agredidos nos Pupilos do Exército"
A imprensa tem vindo a referir um episódio de violência
exercida por alunos mais velhos sobre colegas seus mais novos nos Pupilos do Exército.
Os episódios terão ocorrido fora das actividades lectivas e ainda temos
presente um caso da mesma natureza ocorrido há meses no Colégio Militar.
Algumas notas sobre esta questão, a violência entre alunos,
e que não decorrem de nenhuma apreciação sobre a natureza específica destas
duas instituições.
Com as mudanças provocadas pelas políticas educativas dos
últimos anos, encerramento de escolas mais pequenas e a definição de agrupamento
e mega-agrupamento de escolas, temos estabelecimento escolares com um número
muito significativo de alunos de idades bem diferenciadas a conviver no mesmo
espaço físico.
Por outro lado, os sucessivos cortes de professores e de
funcionários leva a que as escolas tenham uma enorme dificuldade,
aliás, recorrentemente referida na comunicação social, em assegurar o seu
funcionamento em patamares aceitáveis de qualidade e eficácia.
Uma das consequências deste cenário é, justamente, a dificuldade
em assegurar uma supervisão adequada dos espaços de recreio e não lectivos o
que, considerando o número de alunos e as diferenças de idade, poderá potenciar
o risco de comportamentos desajustados entre os alunos.
É reconhecido que os problemas mais significativos sentidos
nas escolas, indisciplina, violência, delinquência, bullying, etc. ocorrem em
grande parte nos recreios pelo que, afirmo-o muito frequentemente, me parece
fundamental que se dê atenção educativa aos tempos e espaços de recreio escolar.
Em muitas escolas a insuficiência de pessoal auxiliar, agora
baptizados “assistentes operacionais” muito agravada nos tempos que correm como
já referi, não permite a ajustada supervisão desses espaços. Por outro lado, a
sua formação em matérias como supervisão educativa e mediação de conflitos, por
exemplo, e/ou, o entendimento que têm das suas competências, muitas vezes não
valorizadas pela própria comunidade educativa e geral, leva a alguma
negligência ou receio de intervenção.
Talvez não seja muito popular mas digo de há muito que os
recreios escolares são dos mais importantes espaços educativos, aliás, muitas
das nossas memórias da escola, boas e más, passam pelos recreios. Neste
sentido, defendo que a supervisão dos intervalos, para além da colaboração dos
funcionários, deveria ser da responsabilidade de docentes e, porque não,
envolvendo também alunos devidamente enquadrados para não se replicarem os
episódios como os verificados nos Pupilos do Exército ou Colégio Militar. Para
isso torna-se necessário recursos e formação, matérias que estão a sofrer uma
colossal austeridade e enviar milhares de professores para o desemprego.
A reestrutura da enorme carga burocrática do trabalho dos
professores, dos modelos de organização e funcionamento das escolas, por
exemplo, poderiam também libertar horas de docentes para esta supervisão que me
parece desejável.
A boa e atenta “profes-vigilância” é mais eficaz que um
invisível “big brother”, por exemplo a vigilância electrónica, que alguns
defendem, ou a presença regular inviável e indesejável de elementos forças de
segurança nos espaços escolares como já tenho ouvido reclamar.
É hoje aceite a importância do clima da escola como factor
associado ao sucesso do trabalho de alunos e professores e a minimização dos
problemas ligados ao comportamento e à indisciplina.
No entanto, como noutras matérias, as decisões de política
educativa não relevam do que se sabe ser bom para alunos, professores e pais,
mas de critérios de outra natureza, mais ou menos implícita de que aqui também
já temos falado.
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