Os dias que medeiam entre o Natal e o Ano Novo têm, do meu
ponto de vista, uma característica muito particular. Fico sempre com a
sensação de que os vivemos como não dias. Parece uma ideia estranha, mas vou
tentar explicar.
Logo depois do Natal, ainda a recuperar do espírito
natalício, entramos numa espécie de ressaca advinda da azáfama das prendas,
dadas, recebidas ou sonhadas e da culpa resultante dos excessos.
Deste estado, passamos para os dias de aproximação ao Ano
Novo que, independentemente do que de menos bom possamos racionalmente esperar,
vivemos com a esperança de que seja mesmo novo e, sobretudo, Bom.
Trocamos milhares de mensagens e votos noutra azáfama que
parece assentar numa ideia mágica dos tempos de miúdo que nos parece fazer
acreditar que se assim procedermos, o Ano Novo vai ser mesmo Novo e, repito,
Bom. De tanto falarmos nele, ele vai convencer-se de que terá mesmo que ser
assim.
É certo que de há uns tempos para cá, como devem ter dado
por isso, foi desaparecendo o Próspero, basta que seja Bom, ou até mesmo que
não seja pior do que este. Já era bem bom, por assim dizer.
É também muito provável que nos últimos dias do próximo
Dezembro, o de 2015, estaremos com o mesmo sentimento a enunciar os mesmos
discursos apesar das promessas optimistas de que ... a coisa está a mudar..
Alguns de nós tentarão de forma mais ou menos dispendiosa ou
criativa encontrar uma maneira feliz e divertida, assim a entendemos, de entrar
em Janeiro, no Ano Novo, portanto. Pode até nem ser muito divertida mas vai parecer
com toda a certeza. Este ano, dizem, a coisa vai ser mais comedida, efeitos da
crise, é claro.
O problema mais sério é que a 2 de Janeiro está aí o Ano
Novo que, para muita gente, vai continuar velho e para muita outra gente não
vai ser Bom, longe disso.
Mas para um povo sereno e de brandos costumes como nós, haja
saúde, que é o principal, no resto, no resto, algum jeito se há-de dar.
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